Todo o mundo ficou indignado com as histórias contadas pelos jornais sobre a pirataria na Somália, me perguntei por que estava sendo tão difícil acabar com isso, e como as armadas das grandes potências estavam sendo tão incompetentes? Porque...... porque o que está sendo noticiado é um lado bem obscuro do que acontece naquele litoral.
Há alguns dias, recebi um correio do NG, com Y, com o texto abaixo, de Johann Hari, The Independent, UK, se chama Piratas somális: Outro lado da moeda, falava das razões da pirataria naquele país.Li o texto, achei coerente e fui pesquisar sobre o assunto, achei um mapa e muito mais, o resultado é estarrecedor. Este é o primeiro post sobre o assunto, as histórias sobre o que acontece no litoral somaliano, são escabrosas e tem muito mais coisa para contar.
Antes de ler o texto de Johann Hari, abra o mapa abaixo, mostra, entre outras coisas, os ataques feitos pelos "piratas". A primeira coisa que chama a atenção é, não há ataques em águas internacionais, forma estranha de pirataria, depois, o que diabo esses navios faziam lá, alguns bem perto da costa, muito perto, a terceira coisa é, porque navios de tão diferentes nacionalidades estavam nessa área.
Piratas somális: Outro lado da moeda - Johann Hari, The Independent, UKHá alguns dias, recebi um correio do NG, com Y, com o texto abaixo, de Johann Hari, The Independent, UK, se chama Piratas somális: Outro lado da moeda, falava das razões da pirataria naquele país.Li o texto, achei coerente e fui pesquisar sobre o assunto, achei um mapa e muito mais, o resultado é estarrecedor. Este é o primeiro post sobre o assunto, as histórias sobre o que acontece no litoral somaliano, são escabrosas e tem muito mais coisa para contar.
Antes de ler o texto de Johann Hari, abra o mapa abaixo, mostra, entre outras coisas, os ataques feitos pelos "piratas". A primeira coisa que chama a atenção é, não há ataques em águas internacionais, forma estranha de pirataria, depois, o que diabo esses navios faziam lá, alguns bem perto da costa, muito perto, a terceira coisa é, porque navios de tão diferentes nacionalidades estavam nessa área.
VOCÊ SABE QUE 17 DAS 20 MAIORES FORTUNAS INGLESAS SÃO RESULTADO DA PIRATARIA DOS SÉCULOS 17 e 18?
Lamentável verificar-se que, em pleno século XXI, os mais fortes, no caso as nações hegemônicas, continuam impondo aos mais fracos a sua vontade. Vale a pena ler todo o texto para conhecer uma outra versão da história.
Lamentável verificar-se que, em pleno século XXI, os mais fortes, no caso as nações hegemônicas, continuam impondo aos mais fracos a sua vontade. Vale a pena ler todo o texto para conhecer uma outra versão da história.
Piratas somális:
Outro lado da moeda
Johann Hari, The Independent, UK
Quem imaginaria que em 2009, os governos do mundo declarariam uma nova Guerra aos Piratas? No instante em que você lê esse artigo, a Marinha Real Inglesa – e navios de mais 12 nações, dos EUA à China – navega rumo aos mares da Somália, para capturar homens que ainda vemos como vilões de pantomima, com papagaio no ombro. Mais algumas horas e estarão bombardeando navios e, em seguida, perseguirão os piratas em terra, na terra de um dos países mais miseráveis do planeta.
Por trás dessa estranha história de fantasia, há um escândalo muito real e jamais contado. Os miseráveis que os governos 'ocidentais' estão rotulando como "uma das maiores ameaças de nosso tempo" têm uma história extraordinária a contar – e, se não têm toda a razão, têm pelo menos muita razão.
Os piratas jamais foram exatamente o que pensamos que fossem. Na "era de ouro dos piratas" – de 1650 a 1730 – o governo britânico criou, como recurso de propaganda, a imagem do pirata selvagem, sem propósito, o Barba Azul que ainda sobrevive. Muita gente sempre soube disso e muitos sempre suspeitaram da farsa: afinal, os piratas foram muitas vezes salvos das galés, nos braços de multidões que os defendiam e apoiavam. Por quê? O que os pobres sabiam, que nunca
soubemos? O que viam, que nós não vemos? Em seu livro Villains Of All Nations, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos muito interessantes.
soubemos? O que viam, que nós não vemos? Em seu livro Villains Of All Nations, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos muito interessantes.
Se você fosse mercador ou marinheiro empregado nos navios mercantes naqueles dias, se vivesse nas docas do East End de Londres, se fosse jovem e vivesse faminto–, você fatalmente acabaria embarcado num inferno flutuante, de grandes velas. Teria de trabalhar sem descanso,
sempre faminto e sem dormir. E, se se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote [ver "The Cat O' Nine Tails, lit. "o Gato de nove rabos"]. Se você insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa vida, seu salário quase sempre lhe era roubado.
sempre faminto e sem dormir. E, se se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote [ver "The Cat O' Nine Tails, lit. "o Gato de nove rabos"]. Se você insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa vida, seu salário quase sempre lhe era roubado.
Os piratas foram os primeiros que se rebelaram contra esse mundo. Amotinavam-se nos navios e acabaram por criar um modo diferente de trabalhar nos mares do mundo. Com os motins, conseguiam apropriar-se dos navios; depois, os piratas elegiam seus capitães e comandantes, e todas as decisões eram tomadas coletivamente; e aboliram a tortura. Os butins eram partilhados entre todos, solução que, nas palavras de Rediker, foi "um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18 ".
Acolhiam a bordo, como iguais, muitos escravos africanos foragidos. Os piratas mostraram "muito claramente– e muito subversivamente– que os navios não precisavam ser comandados com opressão e brutalidade, como fazia a Marinha Real Inglesa." Por isso eram vistos como heróis românticos, embora sempre fossem ladrões improdutivos.
As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria new age que está em todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: "O que fiz, fiz para não morrer. Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver".
As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria new age que está em todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: "O que fiz, fiz para não morrer. Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver".
O governo da Somália entrou em colapso em 1991. Nove milhões de somalianos passam fome desde então. E todos e tudo o que há de pior no mundo ocidental rapidamente viu, nessa desgraça, a oportunidade para assaltar o país e roubar de lá o que houvesse. Ao mesmo tempo, viram nos mares da Somália o local ideal onde jogar todo o lixo nuclear do planeta.
Exatamente isso: lixo atômico. Nem bem o governo desfez-se (e os ricos partiram), começaram a aparecer misteriosos navios europeus no litoral da Somália, que jogavam ao mar contêineres e barris enormes. A população litorânea começou a adoecer. No começo, erupções de pele, náuseas e bebês malformados. Então, com o tsunami de 2005, centenas de barris enferrujados e com vazamentos apareceram em diferentes pontos do litoral. Muita gente apresentou sintomas de contaminação por radiação e houve 300 mortes.
Quem conta é Ahmedou Ould-Abdallah, enviado da ONU à Somália: "Alguém está jogando lixo atômico no litoral da Somália. E chumbo e metais pesados, cádmio, mercúrio, encontram-se ali praticamente todos os tóxicos." Parte do que se pode rastrear leva diretamente a hospitais e indústrias européias que, ao que tudo indica, entregam os resíduos tóxicos à Máfia, - ver caso da Mafia dominando a coleta do lixo em Nápoles e em vários locais da Europa - que se encarrega de "descarregá-los" e cobra barato para fazer isso em locais como a Somália.
Quando perguntei a Ould-Abdallah o que os governos europeus estariam fazendo para combater esse 'negócio', ele suspirou: "Nada. Não há nem descontaminação, nem compensação, nem prevenção. Existe apenas o abandono absoluto".
Ao mesmo tempo, outros navios europeus vivem de pilhar os mares da Somália, atacando uma de suas principais riquezas: pescado. A Europa já destruiu seus estoques naturais de pescado pela superexploração – e, agora, está superexplorando os mares da Somália. A cada ano, saem de lá mais de 300 milhões de toneladas de atum, camarão e lagosta, roubados, anualmente, por pesqueiros ilegais. Os pescadores locais tradicionais, paupérrimos, passam fome.
Mohammed Hussein, pescador que vive em Marka, cidade a 100 quilômetros ao sul de Mogadishu, declarou à Agência Reuters: "Se nada for feito, acabarão com todo o pescado de todo o litoral da Somália."
Esse é o contexto do qual nasceram os "piratas" somalianos. São pescadores somalianos, que capturam barcos, como tentativa de assustar e dissuadir os grandes pesqueiros; ou, pelo menos, como meio de extrair deles alguma espécie de compensação.
Os somalianos chamam-se "Guarda Costeira Voluntária da Somália". A maioria dos somalianos os conhecem sob essa designação. Pesquisa divulgada pelo site somaliano independente WardheerNews informa que 70% dos somalianos "aprovam firmemente a pirataria como forma de defesa nacional".
Claro que nada justifica a prática de fazer reféns. Claro, também, que há gângsteres misturados nessa luta – por exemplo, os que assaltaram os carregamentos de comida do World Food Programme. Mas em entrevista por telefone, um dos líderes dos piratas, Sugule Ali disse: "Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam nosso peixe." William Scott entenderia perfeitamente.
Por que os europeus supõem que os somalianos deveriam deixar-se matar de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir passivamente os pesqueiros europeus (dentre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram- se no caminho pelo qual passa 20% do petróleo do mundo... imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra.
A história da guerra contra a pirataria em 2009 está muito mais claramente narrada por outro pirata, que viveu e morreu no século 4º AC. Foi preso e levado à presença de Alexandre, o Grande, que lhe perguntou "o que pretendia, fazendo-se de senhor dos mares." O pirata riu e respondeu: "O mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador." Hoje, outra vez, a grande frota europeia lança-se ao mar, rumo à Somália, mas... quem é o ladrão.
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