quinta-feira, 29 de abril de 2010

Resgate histórico

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Os covardes de ambos os lados evitam abrir os arquivos da ditadura, muitos não se orgulham e muitos, dos dois lados, tem "muito" a esconder.

Os arquivos mostrariam os falsos heroismos, falsos pretextos, os covardes, os ladrões e muitos outros mitos, utilizados e alardeados por ambos os lados.

O que sobra é a história e memória dos mortos trocadas pelas indenizações milionárias, muitas sem razão de ser.

Aqui o que sobra é a máxima brasileira, mais vale uma moeda no bolso que vergonha na cara. E isso vale para ambos os lados.

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Terminar a ditadura

por Luciano Oliveira * para o site Amálgama

Posted: 20 Apr 2010 08:05 PM PDT

– A ditadura brasileira, que começou como “revolução”, mudou para “regime militar” e agora é tratada pelo nome que verdadeiramente lhe cabe, continua, como uma alma penada, assombrando a vida política do país. Basta ver o que acontece agora com III Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH) e toda a celeuma que têm provocado os dispositivos relativos à memória dos anos de chumbo no que eles têm de mais explosivo: os crimes cometidos pelos torturadores e o destino dos desaparecidos.

Produzido a partir de seminários realizados em todo o país com forte participação das chamadas ONGs  Organizações não Governamentais, o Plano reflete razoavelmente o clima de militância que percorre esses eventos, nos quais palavras de ordem costumam receber adesões muitas vezes automáticas e, assim, deslizam sem maiores ponderações para as propostas finais. Ao serem chanceladas pela Presidência da República e se tornarem políticas de governo, podem levantar questões que a sociedade como um todo tem legitimidade para discutir. É o que faço.

No caso, o que me interessa é a questão das violações de direitos humanos durante o regime militar e o tratamento que o Plano propõe para esse candente assunto. Nesse itinerário, porém, expandirei o arco de minhas reflexões para ir além do Plano, até porque considero que ele é apenas mais um capítulo no embate que desde o fim dos anos de chumbo tem sido travado entre os militares e o que eles chamam de “revanchistas”  muitas vezes simples mães querendo saber onde prantear um filho desaparecido, repetindo com isso o gesto de Antígona há mais de dois mil anos, ao desafiar a ordem da Polis para dar uma sepultura a seu irmão. Mas, ao contrário do que pode sugerir a observação acima acerca dos esqueletos ainda trancados no armário do regime, já não partilho uma visão maniqueísta desse assunto. Passados 25 anos da entrega do poder aos civis, é mais do que tempo de tratarmos a ditadura militar como um objeto irremovível da nossa história. Isso está a exigir uma atitude mais objetiva e serena, e menos militante, dos que se dispõem a pensá-la. Que há exigências inafastáveis, há. O destino dos desaparecidos é a mais importante delas. Isso dito, entretanto, creio que “o direito à verdade histórica”  para usar os termos do Plano  precisa considerar, e não ter medo de enfrentá-los, certos fatos daqueles anos turvos que a nossa boa consciência de derrotados na “guerra suja” prefere esquecer, bem como rever certos mitos envolvendo a luta armada que se tornaram lugares comuns e que, talvez por receio de sermos confundidos com certos órgãos da grande imprensa aplicados na arte do desprezo a tudo que cheire a esquerda  a Veja com sua arrogância habitual é um bom exemplo disso , não ousamos questionar. Precisamos fazê-lo para, como quer o Plano, “promover a reconciliação nacional”. O que se segue é uma pequena contribuição nesse sentido.

Relembrando rapidamente, o que irritou particularmente os militares foi a Diretriz 23 do Plano, que previa “a apuração e o esclarecimento público das violações de Direitos Humanos praticadas no contexto da repressão política ocorrida no Brasil”. Como sempre, a queixa castrense reporta-se ao que seria a parcialidade do documento. No Brasil teria havido uma guerra, com vítimas dos dois lados. E se um lado praticou a tortura, o outro praticou terrorismo, assaltos, seqüestros etc. Nesse caso, por que a “apuração” apenas do que fez um dos lados? Depois da celeuma provocada pela reação de alto coturno, o presidente Lula assinou decreto mudando a redação: eliminou-se a menção ao “contexto da repressão política” e ficou a previsão genérica de “examinar as violações de direitos humanos praticadas no período”. Com isso, fica aberta a possibilidade de se esclarecerem também os atos praticados pela esquerda armada, que seriam igualmente violações de direitos humanos. A emenda não resolve o soneto.

De um lado, existem autores que sustentam a tese de que só o estado, por razões a um só tempo históricas, filosóficas e programáticas, deve ser considerado violador de direitos humanos  tese, aliás, que conta com minha simpatia. A autoridade do poder judiciário pode adotá-la e tudo volta à estaca zero: apurar-se-ão, como violações desses direitos, apenas os crimes praticados no “contexto da repressão política”. Ademais, de um modo geral os que praticaram atos de terrorismo já foram punidos. Ou porque foram mortos, ou porque foram condenados pela Justiça Militar. Restaram talvez impunes os que conseguiram se exilar e foram condenados à revelia, mas não cumpriram pena. Enfim, as situações são várias e só um exame dos casos concretos permitiria configurar todas as nuances do quadro. Mas, na sua moldura geral, é isso: um dos lados já foi punido. Mesmo punidos, porém, muitos desses militantes praticaram ações que sua memória preferiria talvez esquecer, mas que a “verdade histórica” não pode contornar. Correndo o risco de ser mal compreendido, acho, sim, que o Plano está tisnado de parcialidade. Antes de seguir, respondo antecipadamente à eventual objeção de que numa matéria dolorosa como a dos desaparecidos não há, desde que falemos da perspectiva dos direitos humanos, como não tomar partido. Concordo inteiramente. Essa é uma das vertentes da Diretriz 23 que conta com a minha adesão total. Em relação a outras, entretanto, não posso calar o meu incômodo com o espírito de insuficiência que presidiu sua elaboração.

De um lado, é verdade, a acusação dos militares de que se trata de “revanchismo” não é inteiramente endossável, por razões que foram explicitadas já no longínquo ano de 1985  quando, com a volta dos civis ao poder, começaram os primeiros ensaios de revisão da Lei de Anistia  pelo presidente nacional da OAB à época, Herman Assis Baeta: “Revanchismo é torturar o torturador. E não é isso que se quer.” Mas, de outro lado, é compreensível que os militares, lendo o documento, sintam-se tratados com espírito de parcialidade. O fenômeno é curioso e merece reflexão. Deu-se aqui no Brasil, como ocorreu noutras latitudes e longitudes dessa América Latina coalhada de ditaduras no último terço do século passado, um fenômeno digno de ser matéria à reflexão da Ciência Política: a derrota  pelo menos simbólica  dos vencedores! Os da minha geração  aqueles que já eram nascidos em 1964, foram para a universidade no governo Médici e portanto sabem o que é viver sob uma ditadura  lembram-se da famosa Lei de Segurança Nacional dos militares e de um dispositivo que considerava crime a “guerra psicológica adversa”, freqüentemente ridicularizado pelos críticos do regime pelo pleonasmo contido na expressão: afinal, toda guerra é adversa… Pois bem: os militares, ao cabo do seu regime, perderam a “guerra psicológica” que lhe moveram os derrotados  massacrados psicológica e fisicamente nas câmaras de tortura.

Retomo aqui brevemente uma questão tratada mais longamente noutro lugar: a condenação moral que terminou se abatendo sobre os torturadores. Com efeito, depois de ter se tornado uma política de estado e de ter vitimado milhares de pessoas, a tortura dos militares brasileiros tornou-se uma realidade em si mesma e, como tal, gerou efeitos não previstos, não controlados e, sobretudo, não desejados pelos próprios vencedores da “guerra suja”: o seu opróbrio! Nesse sentido, não se pode afirmar que eles permaneceram completamente impunes. Além das penas morais que sobre eles recaíram, houve uma espécie de “punição” (bem soft, é verdade!) no processo lento e claudicante, mas que, com idas e vindas, terminou se impondo: o do isolamento paulatino dos oficiais diretamente envolvidos na repressão política, afastando-os de postos de confiança e discretamente preterindo-os em promoções por merecimento. De tal forma que, em 1995, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou o projeto de lei reconhecendo e assumindo, em nome do Estado brasileiro, “a responsabilidade das transgressões cometidas à lei e aos direitos humanos” durante o regime militar, a “linha-dura” das três forças militares estava “na reserva ou sem a mínima condição de alcançar o generalato”  o que tornou pífio e sem maiores repercussões o protesto de algumas vozes que nos quartéis se ergueram contra o projeto (IstoÉ, 06.09.95). O nosso e outros casos (Argentina, Chile e Uruguai, por exemplo) contrariam um antigo postulado  o de que a história é sempre contada pelos vencedores. A “guerra suja” que se deu no Brasil e na América Latina nos anos 60 e 70 mostrou que os vencidos podem ter a última palavra  no caso, quando os vencedores ganham a guerra valendo-se de métodos que cobrem de vergonha aqueles que os empregam, perdendo com isso os louros da glória e a legitimidade para narrar seus feitos.

Mas o outro lado tem também feitos dos quais os próprios autores  já há bastante tempo, aliás  fizeram um mea culpa: a luta armada e as ações que lhe eram inerentes: assaltos a bancos, atentados terroristas etc. Apesar disso, a verdade é que há em vigor uma espécie de senso-comum crítico do regime militar que prefere ignorar esses matizes que compõem o quadro turvo daquela época. O horror inominável das câmaras de tortura dos DOI-CODIs não autoriza que ignoremos essa parte da história ou que, quando a apresentamos, façamo-lo de maneira enviesada, como muitas vezes ocorre. Refiro-me especificamente a duas ou três notações que integram aquele senso-comum e que muitas vezes vemos circular de forma impressa em artigos de jornais e revistas: a de que a luta armada só ocorreu por causa do regime militar e em decorrência dele; que os opositores do regime eram democratas lutando pela volta do estado de direito; e, finalmente, que a pecha de terroristas foi uma etiqueta injustamente colada nas costas dos militantes pela ditadura, para indispô-los junto à população. Todas três são parcialmente verdadeiras e parcialmente falsas!

Para começar, o projeto da luta armada como forma de edificar o socialismo no Brasil é bem anterior a 1964. Para não ir muito longe  o que nos faria recuar pelo menos à Coluna Prestes , basta lembrar o famoso racha no Partido Comunista Brasileiro, o PCB, de onde saiu o PC do B, ocorrido em 1962. A dissidência se deu justamente por causa do “pacifismo” do velho “Partidão”, naquele momento contrário às teses da insurreição armada para chegar ao poder. No Manifesto da nova organização, “as forças sociais em ascensão” são convocadas a instalar um “governo popular revolucionário”, e o exemplo cubano, bem recente, mostrava que isso não se daria pelo voto… Isso ocorreu dois anos antes de 1964. O golpe militar, obviamente, levou água ao moinho dos partidários da luta armada. Daí que, em 1967, o “Partidão” sofre uma nova cisão, dessa vez protagonizada por Marighella, que em 1967 sai do PCB e cria a Aliança Libertadora Nacional (ALN), a qual, sem meias medidas, anuncia no seu Manifesto que o seu caminho será o da “violência, do radicalismo e do terrorismo”, a seu ver as únicas armas eficazes para se contrapor “à violência inominável da ditadura”. Era o governo Castello Branco e, convenhamos, a violência até então ainda não era “inominável”. A partir de dezembro de 1968, com o Ato institucional n. 5, será.

Em resumo, essa não é uma história inteiramente maniqueísta opondo bandidos fascistas de um lado e mocinhos democratas do outro. No Brasil houve, sim, pelo menos como tentativa  canhestra, isolada, fadada ao fracasso, sem dúvida , uma guerra revolucionária. E a resposta do regime, que já era ilegítimo porque fruto de um golpe, foi mergulhar de vez na ilegalidade com a brutalidade dos torturadores. É aqui que as notações do senso-comum são, também, parcialmente verdadeiras. A partir de determinado instante, ainda no governo Médici, já não havia mais terroristas no Brasil. Estavam mortos, presos ou exilados. Aí começou a pior das perversões. O aparato de segurança  a “tigrada”, como chama Elio Gaspari; os “revolucionários sinceros mas radicais”, como chamava o general Geisel , ciosa do poder que havia conquistado nos desvãos do regime, começou a inventar terroristas. É nesse contexto que ocorre o assassinato  que alguns consideram ter sido uma “provocação” ao projeto de “distensão” de Geisel  de pessoas como Vladimir Herzog, comunista de carteirinha, certo, mas conhecido jornalista e pacifista convicto. Nessa época, os presos, torturados, mortos ou desaparecidos já não aspiravam outra coisa senão a volta ao estado de direito, onde a luta por uma sociedade mais justa poderia continuar nos quadros de um regime democrático. Aqui não há como não ser maniqueísta. Com isso quero dizer que são coisas diferentes, moralmente, filosoficamente, doutrinariamente falando, as execuções de revolucionários como Marighella e Lamarca, de um lado, e o assassinato abjeto de militantes como Herzog, de outro.

Segundo reporta Elio Gaspari, em determinado instante do governo Geisel oficiais lúcidos como Golbery do Couto e Silva, comprometidos com o projeto de “distensão”, perceberam que os torturadores teriam de ser isolados, “para que o Exército pudesse ser salvo”. Acho que seria dramático demais dizer, nesse momento, que essa salvação ainda está na ordem do dia. Mas continuam na ordem do dia as graves violações de direitos humanos que ele aceitou, praticamente institucionalizou e, finalmente, cobriu. Continua acobertando até hoje e, assim, arcando com as conseqüências. Passados quase trinta anos daqueles dolorosos eventos, é hora de levantar e jogar fora esse lençol. Nem que seja porque a recusa desse mea culpa continua alimentando mitologias como as que li um dia desses numa revista de sociologia a respeito da tortura que continua uma prática corriqueira da polícia no país  a de que ela seria uma “herança da época da ditadura militar”. Nada mais simplificador. Falso, até. A violência física contra presos comuns, criminosos de verdade ou simples suspeitos, é uma constante na nossa história. O que acontece durante a ditadura militar é que ela abandona o gueto popular onde normalmente está confinada e atinge setores médios e mesmo altos da sociedade brasileira. É interessante observar que o torturador emblemático dos anos de chumbo foi um civil, o delegado Sérgio Fleury, que já exercia seu execrável ofício na polícia de São Paulo antes de ter o seu know-how aproveitado pela repressão política. No capítulo da tortura política, a verdade é essa, o regime de 1964  talvez seja mais exato dizer o regime de 1968  não foi inteiramente original. Na ditadura anterior, a de Vargas, a polícia política comandada por Felinto Müller praticou misérias. Harry Berger, um comunista alemão que andava por aqui fomentando a revolução, preso juntamente com Luiz Carlos Prestes, foi tão torturado que enlouqueceu. Em Prestes ninguém tocou. Esses fatos estão relatados num livro hoje esquecido do jornalista David Nasser, muito apropriadamente chamado Falta Alguém em Nuremberg. Nasser era um jornalista inescrupuloso, mas o seu relato é confirmado por outras fontes, inclusive Graciliano Ramos, que conheceu as prisões do Estado Novo e narrou episódios como os descritos por Nasser no monumental Memórias do Cárcere. Na ditadura anterior, porém, o trabalho sujo ficou a cargo da polícia civil, já acostumada a esse gênero de trabalho. O Exército, como instituição, não se meteu. A partir de 1968, porém, chamou para si essa tarefa inglória.

Essa história, antiga de trinta anos, precisa passar. Mas para isso precisa ser passada a limpo. Com o que abordo a questão da Lei de Anistia e de sua revisão. O Plano não prevê isso diretamente, mas implicitamente essa possibilidade está na Diretriz nº 25, a qual prevê a “revogação de leis remanescentes do período 1964-1985 que sejam contrárias à garantia dos Direitos Humanos ou tenham dado sustentação a graves violações” – grifei. A Lei de 1979 se enquadraria nesse último quesito. Aqui se abrem duas ordens de consideração: uma no plano do ser, outra no do dever-ser. No primeiro deles, que é o da sociologia e da história, mas também da política, não vejo essa possibilidade. Uma revogação terá de se dar mediante lei, votada pelo Congresso Nacional  e os nossos políticos, como já disse o ministro Nelson Jobim por ocasião dos trinta anos da Lei de Anistia, devem gastar energia “construindo o futuro”, não remoendo o passado (Folha de S. Paulo, 23.08.09). É comum ouvirmos referências aos casos argentino e chileno, onde as leis de auto-anistia que os militares se deram foram revogadas  ou ainda, no que é sem dúvida uma enormidade, comparações com a Alemanha hitlerista, que procedeu a uma política sistemática de desnazificação do país depois da Segunda Guerra e da volta aos quadros da democracia parlamentar. Nesse último caso, a comparação é mera retórica, não pode ser levada a sério. Mas os casos chileno e argentino, nos quais segundo alguns deveríamos nos mirar, merece ser refletido. Há, no meu modo de ver, diferenças significativas entre a ditadura dos dois países e a nossa própria experiência ditatorial. Um aspecto interessante é que, naqueles dois casos, a vida política institucional foi extinta. Os ditadores governaram sozinhos, sem terem de compor com partidos políticos, negociar apoio etc. No Brasil, mesmo que a maior parte do tempo sob a forma de simulacro, as instituições  em que pese os episódicos fechamentos do Congresso  mantiveram-se em funcionamento a maior parte do tempo. Às vezes, como ocorreu nas eleições legislativas de 1974, o governo sofreu grandes revezes. Embora não houvesse dúvidas sobre onde de fato estava o poder, a manutenção de um Congresso funcionando fez dos políticos partícipes do jogo e atores não negligenciáveis na hora em que se negociou a transição do regime. Muitos ainda estão na ativa. Alguém tem dúvidas sobre qual seria a sua posição frente a um projeto de revogação de uma lei pela qual eles foram co-responsáveis? Penso também na ministra Dilma Rousseff. Ex-torturada, pode ser a partir de 2011 a Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Brasileiras. Não creio que ela tenha nenhum interesse em hostilizar eventuais futuros comandados  de quem a primeira qualidade que exige quem comanda é a lealdade…

Diferentemente do que ocorreu por aqui  onde, inclusive, havia rotatividade nos generais presidentes, todos sacramentados por um Colégio Eleitoral , naqueles dois países a ditadura concentrou-se em dois nomes sobre quem foi mais fácil cair todo o ódio reprimido: os generais Pinochet e Videla. Este foi finalmente substituído pelo general Galtieri, que empreendeu a campanha desastrosa de retomada das Ilhas Malvinas, provocando uma guerra com a Inglaterra que a Argentina perdeu. Humilhados pela derrota, os generais portenhos foram praticamente enxotados do poder. Além disso, ponto a não negligenciar é a diferença brutal nos números de mortos e desaparecidos. O número estimado de 400 mortos pelo regime militar brasileiro  entre os quais estão cerca de 140 desaparecidos  é sem comum medida com a carnificina promovida pelos regimes de Pinochet e Videla. No passivo argentino, números por baixo chegam à cifra impressionante de cerca de 20 mil mortos e desaparecidos. Para a mãe ainda viva de um desaparecido político brasileiro, o raciocínio pode parecer cínico e cruel. Mas, sociologicamente falando, por mais que seja triste dizer, o pequeno número de vítimas fatais, no Brasil, não me parece capaz de impactar e mobilizar a sociedade brasileira em torno de um projeto desse tipo. Note-se que, entre nós, os grupos de familiares de desaparecidos nunca tiveram a visibilidade e a importância que têm até hoje, na Argentina, as Mães da Praça de Maio.

Isso no plano do ser. E do dever-ser? Não escondo que, aqui, os julgamentos subjetivos é que comandam. De forma consciente, não me socorro das tecnicalidades jurídicas que são de inútil valia para decisões desse tipo. Igual ao que ocorre com as grandes questões que envolvem engajamentos políticos ou morais (caso da pena de morte, das quotas nas universidades etc.), dificilmente as pessoas, antes de decidir-se contra ou a favor, vão consultar as leis e, depois de um exame acurado, chegam à solução juridicamente correta. O processo é, de um modo geral, inverso: só depois que já têm uma opinião, é que as pessoas vão procurar os argumentos jurídicos para municiar, confortar e reforçar sua posição. No caso presente, por exemplo, há matéria a gosto. A tortura é crime imprescritível, dizem uns, porque o Pacto de São José da Costa Rica, de 1969, assim o considera. Mas, lembra quem tem a opinião contrária, o Pacto só foi ratificado pelo Brasil em 1992  depois dos cometimentos dos crimes, portanto. Num mesmo diapasão contra a revisão, outro jurista lembra que a condição de anistiado é direito adquirido que a Constituição vigente (art. 5º, inciso xxxvi) manda respeitar. Saltando por cima de todas essas filigranas, entretanto, quem decididamente se posiciona pela revisão considera que, enquanto crime contra a humanidade, a tortura é imprescritível, independentemente disso ter sido pactuado ou não  jurisprudência moderna de que o Julgamento de Nuremberg, ao agir retroativamente, é um marco obrigatório.

De meu lado, portanto, não me valho de nenhum desses argumentos. Antes de expor meus motivos, anuncio logo de saída que sou dos que se posicionam contra a revisão da Lei de Anistia. As razões para isso são de variada ordem. Em primeiro lugar, parece-me que uma medida dessa natureza desconsidera o contexto histórico e os atores sociais que, naquele momento, negociaram, pechincharam, arrancaram promessas e, em 22 de agosto de 1979, terminaram aprovando a Lei como ela, com pequenas alterações, tinha sido proposta pelo Executivo. Não foi uma jornada fácil. O projeto terminou passando por uma votação apertadíssima: 206 a 201  cinco votos apenas de diferença! E isso num Congresso em que o governo tinha, teoricamente, confortável controle da situação graças à esdrúxula figura do “senador biônico”, criada pelo general Geisel em 1977 para garantir a vitória da ARENA nas eleições do ano seguinte. Curiosamente, a grande questão que dividia os congressistas naquele momento não era o que fazer com os torturadores, implicitamente contemplados no slogan “anistia ampla, geral e irrestrita”, que era a bandeira da oposição e dos movimentos pela anistia. A correlação de forças ainda pendia tão fortemente para o lado da ditadura, que a punição dos torturadores não seria uma reivindicação realista. O projeto substitutivo preparado pela oposição, que terminou derrotado, nem previa isso. A grande discussão da época referia-se aos presos condenados por “crimes de sangue” ou por tentativa de reorganização de partido ilegal (o Partido Comunista, obviamente), que o projeto do governo deixava de fora. Eram pouco mais de 50 os que se encontravam nessa situação. Pressionado pela “linha dura”, o Planalto não cedeu. Off the records, porém, pactuou com os líderes da oposição que haveria revisão de sua situação. De fato, através de uma política de revisão e diminuição das penas, rapidamente adotada, quase todos foram soltos nos meses seguintes. Em dezembro daquele mesmo ano, praticamente já não havia presos políticos no país. Resumindo o sentimento então dominante, o senador Teotônio Vilela, antigo arenista que no fim da vida abraçou a causa da anistia e tornou-se o valoroso “menestrel das Alagoas, disse: “Se houve morte de parte a parte, houve sangue de parte a parte. A substância profunda da anistia está em reconciliar a nação.” Até na nossa melhor música popular isso verberou. Um dos grande sucessos de Gilberto Gil em 1979 foi a comovente Não chores mais, cujos versos  quem não lembra?  diziam:

Amigos presos
Amigos sumindo assim
Pra nunca mais
Tais recordações
Retratos do mal em si
Melhor é deixar pra trás…

Não creio que se deva fazer tabula rasa dessa história pelo fato de a conjuntura histórica ser hoje bem diferente. Trinta anos se passaram do reinado tenebroso dos DOI-CODIs e a impunidade dos torturadores, por mais que seja pouco glorioso dizê-lo, foi uma das condições para que pudéssemos ter retomado a história brasileira das mãos da ditadura militar. Desde então, aos trancos e barrancos, estamos construindo uma democracia no país. Os políticos que no já longínquo ano de 1979 transigiram, agiram com aquilo que Max Weber chamaria de ética de responsabilidade, diferentemente da ética de convicção, pela qual, segundo o adágio latino, fiat iustitia et pereat mundus (“faça-se justiça, mesmo que pereça o mundo”). Na vida real, às vezes é preciso deixar a justiça de lado para salvar o mundo  no caso, para salvar o processo de redemocratização então nascente. Ninguém sabe o que teria acontecido se não tivéssemos aceitado a anistia conforme proposta por Figueiredo. Não se pode contar uma história que não aconteceu, mas pode-se especular. Mesmo sabendo que a história é muitas vezes feita do inesperado, é razoável supor, considerando a correlação de forças da época, que o bloqueio da anistia proposta pelo governo teria desviado o curso da “Abertura” do presidente Figueiredo. Poderia ter sido melhor, mas também poderia ter sido pior. O que é possível afirmar com segurança é que, sem a salvaguarda dos interesses dos “revolucionários sinceros, mas radicais” (Geisel), não teríamos tido a anistia de 1979. Ainda nos momentos finais do regime, quando se tornou claro que Figueiredo não conseguiria fazer seu sucessor, mesmo num Colégio Eleitoral tão submisso no passado, o virtual novo presidente, Tancredo Neves, como bom mineiro, “articulou um pacto secreto com as Forças Armadas no qual trocou a promessa de esquecimento dos crimes cometidos nos porões do regime militar pela garantia de que, caso fosse eleito, tomaria posse.”

Vinte e cinco anos depois, o contexto é bem outro, mas o espírito de corpo das Forças Armadas continua mais que sensível a essa questão, como se viu na reação ao III PNDH. Segundo Paulo Vannuchi, principal artífice do Plano, “quando chega nesse tema da apuração da verdade, é que provavelmente o sentimento corporativo se fecha. Provavelmente quem está no comando hoje não tem a mão suja de sangue, mas foi aluno de, foi subordinado de…” Seria talvez interessante especular até onde iria esse espírito corporativo, caso a Lei de Anistia fosse revista. Mesmo não acreditando na possibilidade extrema de um golpe  que clima haveria, hoje, para isso? , provavelmente assistiríamos a pronunciamentos irados, desobediência a intimações para depoimento, renúncias de ministros etc. Acho, entretanto, que esse exercício de especulação seria vão, porque, pelas razões que já apontei, não vejo nenhuma possibilidade de o Congresso Nacional rever uma decisão de trinta anos atrás que, malgrado todos os limites de então, foi negociada. Além do mais, e aqui pra nós, não consigo ver nossa classe política, na sua maioria tão rala de convicções, peitando generais irritados. Todos, ou quase todos, se refugiariam na bandeira da construção do futuro…

De resto, mesmo os que propõem a revisão ou a revogação da Lei, com a conseqüente abertura de avenidas legais para arrastar os torturadores aos tribunais, não são muito entusiasmados com os seus resultados práticos. Defendendo a revisão, o ministro Tarso Genro disse em entrevista: “Quando estamos falando em punir torturadores, não estamos dizendo que essas pessoas irão para a cadeia, porque são pessoas que normalmente têm mais de 80 anos. Os fatos têm de ser apurados e as pessoas têm de ser sentenciadas” (Folha de S. Paulo, 23.08.09). Parece, no caso, que a expectativa gira mais em torno de uma condenação simbólica do que efetiva – com cumprimento de pena, quero dizer. Ora, nesse caso, por tudo o que já disse, acho que essa condenação já existe. Se não num plano jurídico, certamente num plano moral e político.

Finalmente, resta a questão dos desaparecidos – as circunstâncias de suas mortes e onde os restos mortais foram enterrados, se o foram. Podem ter sido queimados, jogados em alto-mar – e assim por diante. Já aqui, estamos numa espécie de patamar de que não podemos nem devemos recuar! Até porque mortos insepultos, como esqueletos no armário, sempre estarão assombrando os vivos. É incompreensível, absurdo e inaceitável a postura das Forças Armadas que se recusam até hoje a encarar esse assunto com a seriedade e com o espírito de colaboração que ele exige. Até porque aqui já não se trata de proteger companheiros de farda  a maioria certamente já de pijama  que se dispuseram a fazer o trabalho sujo dos porões, o qual, de toda evidência, foi feito com o conhecimento e o aval dos altos escalões das Forças Armadas. O novelo de culpas, se puxado, vai alcançar até a memória do presidente Geisel, que em surpreendente depoimento, anos depois de deixar a presidência, confessou: “Acho que a tortura em certos casos torna-se necessária, para obter confissões [...] Não justifico a tortura, mas reconheço que há circunstâncias em que o indivíduo é impelido a praticar a tortura, para obter determinadas confissões e, assim, evitar um mal maior!” Esse mesmo Geisel, entretanto, que, desafiado pela “tigrada” (Elio Gaspari), acuou os torturadores depois da morte de Herzog, demitiu o ministro do Exército Sílvio Frota  candidato da “linha dura” à sua sucessão , bancou, com idas e vindas, a “distensão” e, na saída do poder, revogou o Ato Institucional n. 5, com isso começando efetivamente o desmonte da ditadura. Realmente, Maniqueu não é o melhor patrono para a História…

E no entanto, na questão dos desaparecidos temos de permanecer maniqueístas! Não há transigência possível. As Forças Armadas brasileiras continuam em débito com o dever ético de tornar públicos os arquivos e informações que detenha sobre o destino desses adversários mortos. Isso, sim, as reconciliaria de vez com a Nação. Falei em dever ético, mas talvez seja mais forte falar no simples dever de compaixão para com as mães, irmãos e filhos dos que desaparecem na “noite e na névoa” sem deixar traço. A ética de convicção, nesse assunto, não será abandonada pelo menos enquanto uma mãe como a de Fernando Santa Cruz, desaparecido em 1974, se perguntar todos os dias de sua vida como faz até hoje: “Onde está o meu filho?”

* Luciano Oliveira, Recife, é professor de sociologia da UFPE e autor de Do nunca mais ao eterno retorno: Uma reflexão sobre a tortura (Brasiliense, 2ª ed., 2009).

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A OAB-RJ está com uma campanha para recolher assinaturas daqueles que sejam favoráveis à abertura dos arquivos da ditadura militar.

Para assinar, CLIQUE OAB-RJ


PS: A VERGONHA E A COVARDIA FORAM MAIORIA NA VOTAÇÃO DO STF, NO FINAL DO MÊS DE ABRIL.

NA NOITE ANTERIOR AO JULGAMENTO, O MORDOMO LULALAU RECEBEU TODOS OS JUÍZES DO SUPREMO, PARA UM JANTAR PRIVADO NO PALÁCIO DO PLANALTO.

GRANDE PARTE DOS BENEFICIADOS PELAS INDENIZAÇÕES MILIONÁRIAS, HOJE INTEGRA AS FILEIRAS DO PT E UM NÚMERO SIGNIFICATIVO DELES FAZ PARTE DO STAFF DO MORDOMO.


O PT já assumiu o novo símbolo

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Para fazer companhia à estrela, o PT assume um novo símbolo, o pardal, uma praga urbana que, presume-se, tenha vindo com os primeiros colonizadores portugueses ou, reza a lenda, que no início do século XX foram trazidos para o Rio de Janeiro, por políticos que queriam imitar as cidades européias.

Independente da origem ou quem foi o idiota que os trouxe, ele foi escolhido como ave símbolo do PT.




quarta-feira, 28 de abril de 2010

Crescimento do pênis em até três centímetros, já nos primeiros meses de uso

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Do JB Online

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a suspensão, em todo o país, da propaganda do produto Espicher. A medida vale para todos os veículos de comunicação a partir desta quarta-feira, dia 28. O produto não tem registro na Anvisa. A resolução foi publicada no Diário Oficial da União.

De acordo com indicações do fabricante, o Espicher é um instrumento baseado no princípio da tração, para induzir o corpo humano a produzir células novas quando estimulado de forma continua. A propaganda veiculada na internet anuncia o crescimento do pênis em até três centímetros já nos primeiros meses de uso.


Comentário Politicamente (In)Correto

Velhinho, nada muda a genética..... não adianta se iludir, nasceu pequenininho, vai morrer menor ainda.


Religiosos são tão bonzinhos

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A Igreja Universal do Reino de Deus é acusada de ter enviado para o exterior cerca de R$ 5 milhões por mês entre 1995 e 2001 em remessas supostamente ilegais feitas por doleiros da casa de câmbio Diskline, num total que pode chegar a R$ 400 milhões.

A revelação foi feita por Cristina Marini, sócia da Diskline, que depôs ontem ao Ministério Público Estadual Paulista.

Confirmou tudo que havia dito à Justiça Federal e à Promotoria da cidade de Nova York.


Comentários Politicamente (In)Corretos

Padres católicos pedófilos, pastores evangélicos ladrões, anglicanos americanos racistas...... é..... religião é uma coisa muito legal, só atrai gente boa.

dePUTAdo estúpido, projeto estúpido!

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Tramita na Câmara dos DePUTAdos um projeto do dePUTAdo federal paes de lira (PTC-SP) que livra a mulher ou o marido traído do pagamento de pensão alimentícia e transfere o encargo para o(a) amante, causador(a) da separação.

Para o dePUTAdo, o projeto chama à responsabilidade a pessoa que contribuiu para o "desfazimento de uma família".

"Meu projeto leva em consideração um grande princípio da lei civil brasiliera, que é o da responsabilidade e pretende punir aquele que participou da infidelidade conjugal e ajudou a produzir esse resultado" ,justifica o dePUTAdo.


Comentário Politicamente (In)Correto

Incrível a incapacidade de compreensão da função demonstrada pela "classe" política nesse país.

Bem feito, quem manda não saber votar. Dane-se!

PS. Isso não parece a vingança do corno?




As barganhas políticas e o preenchimento de cargos públicos

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Uma das mazelas (entre várias), que ataingem o estado brasileiro, é o gigantesco número de cargos comissionados, aqueles de indicação dos ocupantes dos cargos eletivos no executivo.

Compete ao prefeito, governador e presidente da república a indicação de diretores, presidentes, superintendentes e toda uma penca de cargos de primeiro, segundo, terceiro ao enésimo escalão de autarquias, estatais e toda a ordem de insituições públicas.

Via de regra, a indicação atente uma barganha política ou simplesmente indicar um parasita partidário, que vai dar parte do seu salário ao partindo, como pedágio para continuar mamando na teta. Eu mesmo conheço uma leva de ex-colegas de universidade e de pós graduação, alçados a cargos no executivo, sem nunca na vida terem trabalhado de verdade.

O controle para evitar isso, deveria ser exercido pelos legislativos, mas com mensalões de todos os tipo e partidos, a aprovação se torna automática. O exemplo máximo são as indicações de juízes de cortes superiores, onde até um advogado partidário consegue aprovação automática.

Se nessas situações críticas, que são as cortes superiores a coisa já degringolou a muito tempo, imaginem naquelas áreas onde não há o mínimo interesse dos "gestores públicos", como na cultura.

Sobre isso, Ney Gastal, jornalista em Porto Alegre e ex diretor de museu, comenta o que está acontecendo no MASP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).


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A notícia abaixo, da Folha de São Paulo, retrata um aspecto terrível da realidade cultural brasileira.
Reclamam-se dos pixadores que agridem prédios e monumentos, mas o que dizer dos (ir)responsáveis pela guarda e proteção do patrimônio histórico e artístico, que o tratam com desprezo?
Veja a notícia em seus múltiplos aspectos:
1-) Um dos assessórios expositivos do Masp, idealizado pela criadora do Museu e parte integrante de seu projeto e de suas estética virou divisória no restaurante.
2-) O atual diretor do Museu mente ao dizer que são réplicas, feitas para "usar a mesma linguagem do Museu". Finge ignorar que um plástico fosco colado sobre as peças as descaracterizaria por completo se fossem réplicas, mas que os buracos nelas existentes revelam que são as peças originais.
3-) Esquecendo que é Diretor de um Museu de Arte, explica que "aquilo é um cubo de concreto com vidro. Qualquer um faz". Ora bolas, "aquilo" não é um "cubo", e "qualquer um faz" é justamente o argumento usado por quem não entende e/ou não gosta de arte moderna para desmerecer qualquer obra. Pode um cara destes ser "diretor do Museu de Arte Moderna" ? ? ? ?
4-) Estes painéis são uma das maiores características do Masp, plenamente integrados à sua proposta arquitetônica, interna e externa. Sem o plástico fosco, é claro.
5-) Mas não estavam em uso.
6-) Um diretor anterior, "radicalmente contra os cavaletes de vidro", os mandou para o depósito, tempos atrás. Ora bolas. Se cada diretor vai confinar ao depósito peças não gosta, para que servem os Museus? Em resumo, parece que o Masp é tratado por seus administradores da mesma forma que foi por aquela pixadora que marcou suas paredes. Pena que todos não tenham o mesmo destino, tribunais e cadeia.
Ah: Os sublinhados e negritos aí embaixo foram postos por mim.
Ney Gastal, jornalista e ex-diretor de Museu.
28/04/2010 - 08h55
Projeto de Lina Bo Bardi vira divisória no restaurante do Masp



FERNANDA MENA


da Reportagem Local


De 1968 a 1995, eles sustentavam Van Goghs, Rembrandts e Caravaggios. Essa memória, no entanto, dificilmente é evocada pelo par de "biombos" de vidro que separam a cozinha e a fila do caixa no restaurante do Masp hoje.

É esse o destino que tiveram dois cavaletes de vidro projetados pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) como suporte para obras do museu.

"Isso aí não é original. Só colamos um plástico no vidro fosco para bloquear a visão da cozinha", explica uma funcionária do restaurante, que fica no subsolo do prédio concebido por Lina nos anos 60.

A administração do museu afirma que as peças são réplicas feitas pelo restaurante. "É para usar a mesma linguagem do museu", disse à Folha o diretor Luiz Pereira Barreto.




Danilo Verpa/Folha Imagem


"Réplicas" do cavelete de vidro de Lina usados como divisória no restaurante do museu
"Réplicas" do cavelete de vidro de Lina usados como divisória no restaurante do museu

Confrontado com o fato de as "réplicas" apresentarem quatro buracos na estrutura do vidro, úteis para fixar quadros, mas não para a função de biombo, Barreto disse que o restaurante "pode ter usado algum vidro que estava sobrando". "Aquilo é um cubo de concreto com vidro. Qualquer um faz", diz.

Ideário modernista

Para o arquiteto Marcelo Ferraz, que trabalhou com Lina por 15 anos, o argumento é uma "desculpa esfarrapada". "Réplica ou não, trata-se do projeto da Lina, que faz parte do Masp tanto quanto o edifício", avalia. "Essa utilização é uma violência contra um ideário modernista, que por si só precisa ser respeitado. É como se fizessem uma réplica de uma cadeira de design consagrado e a transformassem numa privada."

"É assustador! Mas infelizmente é essa a maneira como o Masp tem tratado a obra da Lina", lamenta Solange Farkas, diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia, também projetado pela arquiteta.

A simplicidade da peça idealizada por Lina contrasta com a ousadia de sua proposta: libertar a obra de arte das paredes, criando a ilusão de que flutuam no espaço, numa convergência com o projeto do próprio prédio, suspenso na avenida Paulista.

Utilizados como suporte para o acervo do museu desde sua inauguração, em 1968, os cavaletes foram retirados do espaço expositivo e levados a um depósito durante a gestão do curador Luiz Marques, hoje professor de história da arte da Unicamp.

"Sou radicalmente contra os cavaletes de vidro, mas eles têm sua dignidade histórica e não devem virar móveis e utensílios pura e simplesmente", diz Marques.


domingo, 25 de abril de 2010

9 milhões de eleitores não conhecem dilma

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Segundo pesquisas que estão sendo divulgadas, 9 milhões de eleitores ainda não conhecem dilma roussef nem sabem que ela é candidata PeTralha à presidência da republica.

Comentários Politicamente (In)Corretos

Ainda bem, se conhecessem de verdade, nós teríamos um gigantesco suicídio coletivo!

Mais uma razão para ser a favor do projeto Ficha Limpa

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O ex-dePUTAdo distrital júnior brunelli (PR), o crente que foi filmado abraçadinho com durval barbosa, agradencendo a deus pela corrupção nossa de cada dia (e que renunciou para não ser cassado), tem sérias intenções de se candidatar a senador pelo Distrito Federal.

Comentário Politicamente (In)Correto

Nessa E$bórnia, não vai faltar sigla de aluguel correndo atrás do "futuro candidato".

Vem aí mais um mensalão do PSDB?

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Executivos da Alstom, mega multinacional francesa, confessaram que pagaram propinas a políticos ligados aos governos tucanos de Mário Covas e Geraldo Alckimin, em São Paulo.

Comentário Politicamente (In)Correto

A coisa está tão descarada que nem as moscas se preocupam em mudar.

Sabe qual a diferença entre PMDB e caramujo?

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Nenhuma!

Os dois têm chifres, são gosmentos, babam, vivem se arrastando e ainda acham que a casa é sua.

Superfaturamento e corrupção explícita

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O Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias é o projeto que o executivo submete anualmente ao Legislativo, estabelecendo as regras para a elaboração do orçamento do exercício seguinte. Tem uma peculiaridade, constitucionalmente pode ser emendado, porém, não rejeitado.

Para a LDO para 2011 a PeTralhada resolveu escrachar e assumir que seu projeto de poder está ligado diretamente à corrupção.

O projeto enviado ao congresso pelo goveno do mordomo lulalau, o einstein de Caétes (agora mais lalau que nunca), determina a perda total de controle preventivo do Congresso Nacional de obras e serviços suspeitos de irregularidades graves e esvazia completamente as atividades exercidas pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O projeto determina que a decisão de paralisar ou não esses empreendimentos caberá somente ao próprio Poder Executivo, a quem caberá adotar as medidas preventivas e saneadoras "julgadas pertinentes".

Comentário Politicamente (In)Correto

A expressão "raposa cuidando do galinheiro" e o que ela quer dizer só pode ter sido criada por alguém que sonhou que um dia existiria o PT.

Superfaturamento de obras públicas, no futuro, será somente uma força de expressão.

PS. Já exerceu seu exercício de cidadania? Não? Então está esperando o que? Vá rápido e cuspa num petista ou num dos membros da base aliada.

O perigo da 'grande marcha'... à ré

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Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo
13 de abril de 2010

Lula é um "reality show" permanente. Lula está em "fremente lua de mel consigo mesmo", como dizia Nelson Rodrigues.

Mas, em sua viagem narcisista começam os sintomas do erro. A sensatez do velho sindicalista virou deslumbramento. Um dia, abraça o Collor, no outro, está com o Hamas e Irã.

Freud (não o Freud Godoy dos "aloprados"...) tem um trabalho clássico, O Fracasso Após o Triunfo, no qual mostra que há indivíduos que lutam e vencem, e, depois da vitória, se destroem, porque muitos carregam no inconsciente complexos inibidores do pleno sucesso. Quanto mais medíocre é o dirigente, mais ele despreza a inteligência e a cultura e se transforma numa ilha cercada de medíocres.

Será que foi por isso que Lula escolheu uma senhora sem tempero, uma gaffeuse sem prática, com "olhos de vingança", como me disse um taxista? Parece um sintoma.

A grande ironia é que Lula foi reeleito por FHC. Sem o Plano Real, o governo Lula seria o pior desastre de nossa História. E, ajudado também pela economia mundial em bonança compradora, ele hoje diz que é responsável pelos bons índices econômicos que o governo anterior organizou. E não cai um raio do céu em cima...

Afinal, o que fez o governo Lula, além de se aproveitar do que chamava de "herança maldita", além do Bolsa-Família expandido e dos show de TV? Os primeiros dois anos foram gastos no "assembleísmo" vacilante dos "Conselhos" que ele nunca ouviu, depois a briga com a "gangue" dos quatro do PT, expulsos. Depois, a aventura da quadrilha de corruptos "revolucionários" que Roberto Jefferson desbaratou ? para sua e nossa sorte ?, livrando-o do Dirceu e de seus comunas mais ativos. Aí, Lula pôde voltar ao seu populismo personalista.

Lula continua o símbolo do "povo" que chegou ao poder, mascote dos desvalidos e símbolo sexual da Academia. Lula descobriu que a economia anda sozinha, que basta imitar o Jânio Quadros, o inventor da "política do espetáculo", e propagar aos berros o tal PAC, esse plano virtual dos palanques. Lula tem a aura sagrada, "cristã" do mito de operário ignorante e, por isso, intocável. Poucos têm coragem de desmentir esse dogma, como a virgindade de Nossa Senhora...

Por isso, vivemos um importante momento histórico, que pode marcar o Brasil por muitos anos. Agora, com as eleições, vai explodir a guerra com o sindicalismo enquistado no Estado: 200 mil contratados com a voracidade militante de uma porcada magra que não quer largar o batatal. Para isso, topam tudo: calúnias, números mentirosos, alianças com a direita mais maléfica, tudo para manter o terrível "patrimonialismo de Estado". Não esqueçamos que o PT combateu o Plano Real até no STF, como fez com a Lei de Responsabilidade Fiscal, assim como não assinou a Constituição de 88. Este é o PT que quer ficar na era pós-Lula. Seu lema parece ser: "Em vez de burgueses reacionários mamando na viúva, nós, do povo, nela mamaremos."

Os "companheiros" trabalham sincronizados como um formigueiro. O sujeito pode até bater na mãe que continua "companheiro". Só deixa de sê-lo se criticar o partido, como o Paulo Venceslau, que ousou denunciar roubos nas prefeituras, que depois se confirmaram na tragédia de Celso Daniel.

FHC resumiu bem: se continuar o "lulismo" com sua tarefeira Dilma, "sobrará um subperonismo contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão".

Ou seja, o velho Brasil volta ao seu pior formato tradicional, renascendo como rabo de lagarto. O País tem um movimento "regressista" natural, uma vocação populista automática. Será o início da grande marcha à ré...

Com a eventual vitória do programa do PT, teremos a reestatização da economia, o inchamento maior ainda da máquina pública, a destruição das Agências Reguladoras, da Lei de Responsabilidade Fiscal, em busca de um getulismo tardio, uma visão do Estado como centro de tudo, com desprezo pelas reformas, horror pela administração e amor aos mecanismos de "controle" da sociedade, essa "massa atrasada" inferior aos "revolucionários". A esquerda psicótica continua fixada na ideia de "unidade", de "centro", de Estado-pai, de apagamento de diferenças, ignorando a intrincada sociedade com bilhões de desejos e contradições.

A tarefa principal da campanha de Serra será explicar qual é o "pensamento tucano". Como ensinar a população ignorante que só um choque democrático e empresarial pode enxugar a máquina podre das oligarquias enquistadas no Estado? Como explicar um programa de "mudanças possíveis" na infraestrutura e na educação, contraposto a esse marketing salvacionista de Lula? Esse é o desafio da campanha do PSDB.

Aécio Neves fez bem em se indignar com a demagogia de Dilma no túmulo de Tancredo ? ele nos lembrou que o PT não apenas não apoiou Tancredo em 85, como expulsou seus três deputados que votaram nas eleições pela democracia.

A maior realização deste governo foi a desmontagem da Razão. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Ninguém tem palavras para exprimir indignação, ou melhor, ninguém tem mais indignação para exprimir em palavras.

Aécio Neves devia ir além e ser vice, sim. Seria um gesto histórico que lhe daria riquíssimos frutos, para além do interesse pessoal de uma política imediata. Aécio ganharia uma rara grandeza na história do País. Seu avô aprovaria.

Só uma alternância de poder, fundamental na democracia, pode desfazer a sinistra política que topa tudo pelo poder e que planeja, com descaro, transformar-se numa espécie do PRI mexicano, que ficou 70 anos no poder, desde 1929. Durante o poder do PRI, as eleições eram uma simulação de aparente democracia, incluindo repressão e violência contra os eleitores. Em 1990, o escritor peruano Mario Vargas Llosa chamou o governo mexicano, sob o PRI, de uma "ditadura perfeita". Será que isso nos espera?

sábado, 24 de abril de 2010

Mais das antigas revelações sobre as relações da PF e FBI/CIA

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SOBERANIA ZERO

Do Blog Polícia e Segurança

Imagine-se a Drug Enforcement Administration (DEA), uma das 19 agências policiais norte-americanas - esta de combate ao narcotráfico -, numa operação, na fronteira dos Estados Unidos com o México. Imagine-se que tal operação, de US$ 3 milhões, é totalmente paga pelo governo brasileiro. Imagine-se que 15% desses US$ 3 milhões doados pelo governo brasileiro são usados pela DEA para pagar diárias, passagens aéreas, hospedagens de seus agentes e delegados. Isso, óbvio, só pode brotar numa imaginação muito fértil. Já o contrário existe. No Brasil.
Na fronteira norte do Brasil está em curso, há um ano e meio, a Operação Cobra. Os Estados Unidos pagam os US$ 3 milhões da operação, realizada pela Polícia Federal do Brasil.

Como tem sido norma, diárias, passagens e hospedagens de agentes e delegados do Brasil são, ao menos parte delas, pagas pelos norte-americanos. O dinheiro é da DEA.
O delegado Getúlio Bezerra, chefe da CGPRE, a divisão de repressão a entorpecentes da PF, em entrevista a CartaCapital (na página 30), confirma:
- De fato, uns 12%, não chega a 15% desses US$ 3 milhões deles, são usados para passagens, diárias, hospedagens. Mas tudo planejado com eles...
"Eles", os norte-americanos da DEA. Três anos depois de uma série de matérias de CartaCapital sobre a atuação da DEA, e da CIA, como hóspedes e financiadores da porção mais secreta e sensível das ações da PF do Brasil, surgem provas concretas.
As provas não estão na confirmação de Bezerra às informações sobre detalhes financeiro-administrativos da Operação Cobra. As provas surgiram numa CPI, a do Narcotráfico.
O Banco Central, a pedidos, entregou à CPI toda a movimentação de entrada e saída de dinheiro do País, via conta CC-5, entre os anos 1996/1999. Em meio à movimentação, o elo financeiro, a simbiose entre a Inteligência dos EUA e a PF do Brasil.
São dezenas de remessas. No total, aproximam-se dos R$ 2 milhões nesse período. E não são remessas em nome da instituição Polícia Federal. É dinheiro repassado em nome dos titulares da divisão de repressão a entorpecentes.
O mecanismo: o dinheiro entrava via CC-5 e Citibank. Na embaixada americana, em Brasília, a NAS - outra das agências antinarcóticos dos EUA, e controladora das verbas também da DEA - fazia, e ainda faz, o dinheiro seguir.
Em cheques, o dinheiro chegava, e chega, à divisão de repressão a entorpecentes da PF e entrava, como ainda entra, numa conta aberta em nome do titular da divisão. Conta com a sub-rubrica da divisão e movimentada por mais de um delegado.
No caso dos documentos obtidos por CartaCapital, remessas para uma conta aberta em nome do atual chefe da divisão, Getúlio Bezerra dos Santos, e do seu antecessor, Marco Antonio Cavaleiro.

No total, entre 1996 e 1999, uns R$ 1 milhão e 200 na conta aberta em nome de Cavaleiro e uns R$ 800 mil em nome de Bezerra. Claro que o Tribunal de Contas da União jamais ouviu falar nisso.
Antes deles, vale recordar, à época dos titulares da DRE Paulo Magalhães e Sergio Sakon, o mesmo sistema era usado.
O Ministério Público dispõe do material, o mesmo que chegou atualizado a uma CPI mais recente, a do Futebol, no Senado.
Nesta semana, o deputado Walter Pinheiro (PT-BA) encaminha requerimentos de informações sobre o tema ao general Cardoso, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência e titular da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad).
O pedido de informações segue também para o ministro da Justiça, Miguel Reale, e à chefia da Polícia Federal.
São convidados a prestar esclarecimentos na Câmara, por solicitação de Walter Pinheiro, os ministros Cardoso e Reale, a chefia da PF e o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer.
Cavaleiro deixou o cargo em 1999, exonerado depois de trombar com o então diretor-geral da Polícia, Vicente Chelotti. Desde então, Bezerra é o titular na Entorpecentes.
A briga entre Chelotti e Cavaleiro é a responsável pelo surgimento do elo financeiro agora. Na CPI do Narcotráfico, quando surgiram as movimentações via CC-5, um delegado, ligado a Chelotti, mirando em Cavaleiro enviou-as para o diretor da PF, Agílio Monteiro.
O ofício seguiu seu curso e hoje repousa num conjunto de documentos "classificados", leia-se secretos, no 2º andar do prédio-sede da PF.
Um dos documentos, o enviado a All Bryant, da Assuntos de Narcóticos, a NAS. É o ofício 719 da DRE/Coordenação Geral Central de Polícia, de 24 de março de 2000.

Neste documento, que se segue a um pedido de explicações do diretor da PF sobre a movimentação via CC-5, Bezerra pede a Bryant:
- Solicito indicar as destinações, se possível, bem como esclarecer se houve a comprovação de suas aplicações (prestações de contas).
A 17 de maio de 2000, John C. Mariz, diretor-interino da NAS, responde. A resposta é um atestado do uso correto das verbas repassadas a Bezerra e a Cavaleiro.
Aliás, o que se discute aqui não é a honestidade, que mesmo adversários de ambos não colocam em dúvida, e sim a subserviência da PF, do governo do Brasil, a verbas e interesses norte-americanos.
John Mariz atesta; atestado que já é um resumo desta ópera:
- As transferências constando da sua lista enviada através da divisão foram realizadas de acordo com as regras estabelecidas pelo acordo de cooperação entre o governo da República Federativa do Brasil e o governo dos Estados Unidos para redução da demanda, prevenção do uso indevido e combate à produção e ao tráfico de entorpecentes.
Acordo esse de abril de 1995. Pelo Brasil, assinou o ministro das Relações Exteriores, Luís Felipe Lampreia. Pelo governo dos EUA, o então embaixador Melvyn Levitsky.

O acordo, renovado a cada ano desde um anterior, de 1986, é chamado de "Guarda-Chuva". É o que ele é. Um guarda-chuva que a tudo abriga e protege. O atual trata, genericamente, de projetos.
Projetos de repressão ao tráfico de drogas na Amazônia, de treinamento de agentes, de redução de demanda, do estabelecimento de unidades especiais e de apoio ao grupo especial de investigação. Em 2001, para tais projetos os EUA destinaram ao Brasil US$ 5 milhões e 792 mil.
Quando se chega à ingerência dos norte-americanos na PF, saca-se o acordo guarda-chuva como resposta. Uma resposta que será, sempre, incompleta.
Acordo ou convênio algum pode, sem ferir leis, autorizar a agência de um governo estrangeiro a depositar numa conta, em nome pessoal, de delegados da Polícia Federal do Brasil.
Não é possível que algum acordo, ou convênio, mesmo que secreto, autorize a DEA a pagar diárias, passagens, hospedagens de agentes e delegados da PF, além de financiar as operações.
Como outros de seus colegas ouvidos por CartaCapital, o procurador da República, Luiz Francisco Fernandes de Souza (leia na página 26), diz:
- Não pode, não pode. Essas transferências não podem ser feitas assim, de jeito nenhum, sem contar que isso afronta, pisa na soberania do País. Se alguém fizer apenas parecido nos Estados Unidos, é preso na hora, quem pagar e quem receber.
Chega-se agora às provas da movimentação financeira entre DEA e PF. Movimentação, como já assinalado, acobertada pelo tal guarda-chuva.
As provas, que chegaram também à Agência Brasileira de Inteligência (Abin), vieram à luz no rastro da animosidade entre os delegados Chelotti e Cavaleiro.
A disputa entre ambos já tema de CartaCapital nas edições 92, 97 e 98, tinha, ao fundo, a presença norte-americana na PF.
Historicamente, ao longo das duas últimas décadas, a DEA opera com a Entorpecentes, por onde passou Cavaleiro. Já Chelotti, como diretor-geral, tinha próximo a si o Centro de Dados Operacionais (CDO), ligado à CIA.
O ex-CDO, hoje Serviço de Operações de Inteligência Policial (Soip), teve seu prédio construído, tijolo por tijolo, a partir da segunda metade dos anos 80, com dinheiro da CIA, via Departamento de Estado.

As primeiras duas dezenas de automóveis da PF no então CDO, inicialmente sob o comando do delegado José Antonio da Costa Mariz (o chefe da CIA se chamava Blocker), foram doação da CIA.
Automóveis, claro, em nome de terceiros. Hoje o Soip é chefiado pelo delegado Lawrence. Os delegados Mariz, Edson Resende, Wilson Damásio, Edson Oliveira, Mario José, no CDO ou em outras divisões da PF, trabalharam com os norte-americanos.
Nos anos 90, o CDO chegou a manter 15 escritórios no País. Desativou-os, mantinha quatro em 1999 (Belém, Cuiabá, Porto Velho e Brasília) e agora amplia novamente sua rede.
O Soip é regido pelo sistema de "informação compartilhada". Quem compartilha suas informações é a CIA.
Agentes que fossem trabalhar, que trabalhem no CDO, tinham, têm de passar antes por Washington.
Lá, não na sede da CIA, em Langley, Virgínia, mas em hotéis da capital, submetiam-se a testes no detector de mentiras. Informe-se que o mesmo sistema segue em vigor.
Dentre os que passaram por tal vestibular, citem-se os agentes Tadeu, Sérgio, Trindade, Ricardo, Lima, Paulo, os delegados Mário, José Roberto... Quem chefiou o então CDO ou trabalhou em conjunto com a CIA, passou pelo teste.
Do CDO, no início do governo Fernando Henrique Cardoso, dois agentes foram os executores do grampo telefônico que levou à queda do chefe do cerimonial do Palácio do Planalto, Júlio César Gomes dos Santos.

Naqueles dias, depois de obter uma ordem judicial, para investigação de um caso de tráfico de drogas (modus operandi habitual da CIA/CDO), a PF interceptou e gravou conversas de Júlio César com o presidente da República.
Nas conversas, além de temas mais, digamos, amenos, o presidente Fernando Henrique Cardoso e o embaixador Júlio Cesar trataram do assunto Sivam.
Projeto de US$ 1,4 bilhão, o Sivam opunha, na concorrência, franceses e norte-americanos. Recorde-se que Bill Clinton, o presidente dos EUA, ligou para FHC e pediu apoio ao projeto.
Enquanto Clinton tratava do assunto, a CIA, via informações e grampos compartilhados com o CDO, sabia do que e com quem o presidente do Brasil conversava ao telefone.
Esta história dos bastidores do escândalo Sivam é um ligeiro rememorar de fatos já relatados por CartaCapital.
À disposição no endereço eletrônico www.cartacapital.com.br.
Há quem não acredite nos fatos. Há quem não queira acreditar, como há quem os conheça e os negue. O que não se pode negar são os documentos oficiais. Ainda mais os reservados.
A seguir, CartaCapital trata de outros dois desses documentos guardados em gavetas reservadas dos serviços de inteligência e na Presidência da República.
Um deles é de 1985. O Brasil negociava o acordo de cooperação com os Estados Unidos, e a DEA. O secretário-geral do Ministério da Justiça, José Paulo Cavalcanti Filho, era um negociador brasileiro.
Cavalcanti estranhou que, além dos identificáveis homens da DEA, um expressivo número de agentes outros e militares dos EUA solicitavam visto.
Aquele era um tempo de dificuldades de acesso aos EUA e, reciprocidade diplomática, de acesso de norte-americanos ao Brasil. Diante da extensa lista de norte-americanos, Cavalcanti produziu um relatório reservado, endereçado ao presidente da República.
José Sarney recebeu o relatório. Nele, a suspeita de que militares dos Estados Unidos, valendo-se do tal guarda-chuva, infiltravam-se para chegar às questões da fronteira norte do Brasil.
O documento segue "classificado". José Paulo Cavalcanti, ouvido a respeito do documento manuseado por CartaCapital em Brasília, disse o que se deve dizer nessas ocasiões:
- Esse é um relatório reservado, não posso tratar deste assunto em público. Isso pertence à Presidência da República.
CartaCapital publica (confira na página 27) trechos de outro contundente, e decisivo, documento "classificado".
Decisivo para quem, ainda que crédulo, se dispuser a perceber qual é o teor das relações carnais entre a polícia, o setor de Inteligência do Brasil e representantes dos EUA.
O ofício 133/99 saiu do gabinete da Senad, assinado pelo então titular, Wálter Fanganiello Maierovitch, em 6 de maio de 1999. Foi endereçado ao general Alberto Mendes Cardoso.

O documento é um relato da atuação irregular de agentes norte-americanos no Brasil, da sem-cerimônia desta atuação e mesmo do desrespeito ao País.
Está relatado logo no início:
- ...frustradas tentativas... ...de manter e melhorar a cooperação internacional no enfrentamento do fenômeno das drogas.
Segue a descrição:
- Com exceção dos norte-americanos, todos os adidos das demais embaixadas contactaram com a Senad, aceitando parcerias e prestigiando o novo sistema.
Aguardava-se, à época, que James Derham, o encarregado de negócios, segundo homem na hierarquia da embaixada dos EUA, aceitasse a Senad.
Escreveu Maierovitch no relatório:
- "Lembrado da necessidade de representantes das agências DEA e CIA reportarem-se à Senad, recebe-se resposta de que comunicações eram feitas à Polícia Federal..."
No relatório é descrita a resistência, também, dos chefes da DEA, Pat Healy, e da CIA, Craig Peters Osth, de aceitar a movimentação no Brasil sob o comando da Senad.
Eles estavam, como estão ainda, acostumados apenas à espaçosa hospedagem na Polícia Federal. Recorde-se. Craig Peters Osth deixou o Brasil após a entrevista e presença na matéria de capa de CartaCapital edição 97.
Na edição seguinte, James Derham chegaria à capa com o desabafo feito na embaixada da França, após a decisão pela saída de Osth:
- O dinheiro é nosso, as regras são nossas.
Derham, por conta de tanto, também teve de deixar o Brasil. No relatório ao general Cardoso, Maierovitch descreve um constrangedor embate dentro do próprio Palácio do Planalto:
- ...James Derham trocou a costumeira urbanidade por trato marcado por linguajar desabrido. Encontrando, por acaso, este Secretário Nacional na porta de ingresso do elevador do Palácio do Planalto, começou a externar inconformismo e, tomado pela exaltação da sua tese de que só devia satisfações à Polícia Federal diante do estabelecido no acordo, passou a bramir, tendo sido com urbanidade advertido de que estava a faltar com o devido respeito e que vitupérios não seriam aceitos. Foi, também, advertido de que a conversa, pelo seu estado de descontrole emocional, estava encerrada.
Esses são os fatos. Este último, dentro do Palácio do Planalto, dois andares abaixo da sala do presidente da República.
E há quem ainda considere trivial, natural, um governo estrangeiro financiar atividades, ações, gestos e atos da Polícia Federal do Brasil.
Naqueles dias ainda havia resistências. A da Senad é o maior exemplo. Já se discutia ali outro programa norte-americano, a Task Force, um conceito defendido pelo FBI e pela Procuradoria dos Estados Unidos.
O programa prega a atuação conjunta de polícias, procuradores, bancos, na prevenção e repressão ao tráfico de drogas e ao crime organizado.
Tudo perfeito. Não fossem, mais uma vez, os patrocínios, no caso via FBI, e a monitoração dos caminhos.
Na quinta-feira 11, por exemplo, reuniram-se em Tabatinga, fronteira com a Colômbia, representantes dos países andinos.

Encontro do Idec, organização à qual é ligado o conceito da Task Force. Em Tabatinga, presente a DEA. O delegado Bezerra, na entrevista a CartaCapital, conta:
- Nós somos independentes. Neste encontro do Idec tem países, como o Suriname, que chegam aqui no avião da DEA.
Passaram-se três anos desde quando discutia-se a Task Force, a força-tarefa. De lá para cá o FBI conseguiu autorização para instalar um escritório no Brasil.
Desde então, multiplicam-se as palestras patrocinadas pelo FBI Brasil afora.
Há um mês o encontro foi em Salvador. Desta segunda-feira15 à sexta-feira 19, acontece em Curitiba o Seminário Internacional de Prevenção e Repressão à Lavagem de Dinheiro e à Corrupção na Administração Pública.
Os organizadores anunciam a presença do governador Jaime Lerner, do ministro da Justiça, Miguel Reale, da corregedora-geral Anadyr Mendonça, e palestras inúmeras.
Getúlio Bezerra, da PF, vai falar. Como falarão, todos os dias, os senhores do FBI, Richard Boscovitch, Richard Cavalieros e Rodney A. Morgan.
Para se entender melhor a história e a correlação de forças. As 19 agências norte-americanas disputam, no Congresso dos EUA, verbas, espaços, e têm satisfações a dar.

Se forem menos eficazes, perdem verbas. O que significa menos empregos. Como já não há comunistas, e só agora o terrorismo retorna como inimigo de grandes proporções, as agências dedicaram-se, nos últimos anos, ao combate ao narcotráfico.
As ações se ampliam mundo afora. O Brasil é apenas mais uma base e laboratório. Juntos, DEA, CIA e FBI manejavam há três anos um orçamento superior aos US$ 40 bilhões (atenção, bilhões de dólares).
Imagine-se quem a Polícia Federal hospeda. Em troca de patrocínio às suas operações mais sensíveis e secretas. Em troca de um adjutoriozinho para passagens, diárias, hospedagens.
Ah, mas tem o acordo de cooperação!
Então, tá.
Em tempo: a Polícia Federal do Brasil, por falta de dinheiro, deve R$ 21 milhões na praça. De restos a pagar do ano 2001.

A igreja alemã sofre as conseqüências da pedofilia de seus membros

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Do The Sidney Morning Herald.

A igreja católica alemã está pagando pela omissão e acobertamento dos casos de pedofilia.

Apenas 16 % dos alemães confiam na igreja católica e 24% no papa.

Nas províncias onde aconteceram os abusos, os números são mais preocupantes, em Munich, 472 pessoas declararam que abandonaram o catolicismo, quase 4 vezes superior aos que haviam declarado a mesma coisa nos 90 dias anteriores.

Em Passau, Baviera, a mesma coisa, relatórios indicam que 300 pessoas abandonaram o catolicismo.

O porta-voz de diocese, Wolfgang Duschl, disse que, '' houve um aumento significante e rápido no número das pessoas que têm deixado a igreja, até mesmo nos últimos dias. Mas em março o abandono foi mais sentido. ''

Os números são relativamente precisos, pois foram obtidos nas declarações de imposto de renda. A legislação alemã permite que a pessoa se registre ou se "desregistre" como seguidor de uma religião, possibilitando que parte do imposto seja destinado à religião declarada. O desregistro implica em menos dinheiros para as instituições religiosas.

Um dos desistentes entrevistados em Regensburg, Waltrau Hanke, disse: '' Por que eu deveria destinar meu imposto para proteger padres pedofilos que são simplesmente transferidos para o outro lado do mundo, onde podem continuar com as perversões?''

Uma mulher citada na reportagem da Taggespiegel afirmou: '' Meus dois filhos foram coroinhas, agora estou com medo de que algo possa ter acontecido a eles. O que sou devo fazer? Perguntar se o padre fez algo a eles? ''

A corrupção na Assmbléia Legislativa do Paraná, a legítima casa da mãe Joana

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Parece que alguma coisa está sendo feita para atacar as quadrilhas instaladas na Assmbléia Legislativa do Paraná.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), do Ministério Público Estadual, prendeu na manhã deste sábado dez pessoas que integravam os esquemas de desvio de verbas da Assembléia.

Entre os presos destacam-se o ex-diretor-geral abib miguel, vulgo Bibinho e dois dos seus ex-funcionários, cláudio marques da silva e josé ary nassif.

marques da silva também foi autuado por porte posse ilegal de arma e na casa dele foram encontrados perto de R$ 200 mil.

Na casa de "bibinho" foram achados R$ 50 mil e num depósito, outra equipe do Gaeco apreendeu seus 73 veículos (isso mesmo, setenta e três veículos).

Além disso, o MP ajuizou uma ação cautelar para bloquear os bens de três ex-diretores e um servidor da área administrativa da Assembleia.

O MP tenta garantir o futuro ressarcimento do dinheiro desviado. Os 3 ex-diretores são donos de um patrimônio de R$ 23 milhões.

Comentários Politicamente (In)Corretos

Pergunta: como 3 diretores da Assembléia do Paraná conseguer juntar um patrimônio de R$ 23 milhões, honestamente é que não foi.

Falta agora pegar os chefes das quadrilhas, todos tratados por excelências. O "capo de tutti capi" chama-se nelson justos (DEM), presidente da casa (da mãe joana).

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Mais uma da série, recordar é viver: A representação da CIA dentro da Polícia Federal

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Mas mantendo a linha para falar dos donos do País, que não são somente os nativos, outra reportagem de Bob Fernandes, derivada da entrevista com Carlos Costa, ex espião americano e ex "chefe" da polícia federal brasileira.

A CIA & COMPANHIA
Dois delegados da Polícia Federal, um já aposentado, contam em minúcias a história do CDO, instalação da Agência no Brasil

Por Bob Fernandes

Confira na edição impressa:
A HORA DO RESGATE
Delegado que, dentro da PF, enfrentou a CIA ainda em 1997 revela em detalhes a dimensão da ingerência dos EUA. E da submissão...

RÔMULO, O HISTORIADOR...
Corregedor produziu relatório que radiografa a promiscuidade entre a Agência e a PF desde 1988, e afirma que não há base legal (para o CDO-CIA).



Terça-feira 13, oito da noite. Carlos Costa, chefe do FBI no Brasil de 1999 a 2003, está no gabinete do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Conversa informalmente com os deputados Dr. Rosinha (PT-PR), Maninha (PT-DF) e Fernando Gabeira (RJ, sem partido). Já deveria ter sido iniciada, às seis e meia, a sessão secreta das Comissões de Inteligência e Relações Exteriores que ouviria Costa sobre a ingerência dos serviços secretos e policiais dos Estados Unidos no Brasil. Sessões na Câmara e no Senado se arrastam. Às dez da noite, a decisão é tomada. O depoimento de Costa se dará às nove e meia da manhã do dia 28 de abril.

Pouco antes, outra sessão secreta havia sido adiada. A do dia seguinte, quando deporiam, como convidados, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Félix, e o diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda. No Senado, a informação: os ministros optaram por adiar seus depoimentos porque preferiam saber antes o que falaria Carlos Costa.

Dez e meia da noite. O senador Suplicy, à porta de seu gabinete, relata:

– A embaixadora dos Estados Unidos, Donna Hrinak, me disse que seria melhor o senhor Carlos Alberto Costa dar o seu depoimento reservadamente, porque se o seu depoimento for público o governo norte-americano pode decidir processá-lo.

Quarta-feira, sete da noite. O delegado da Polícia Federal, já aposentado, José Roberto Benedito Pereira, 53 anos, conversa por uma hora com CartaCapital. Entrevista a seguir, das páginas 18 a 22. Ex-chefe de gabinete do então diretor da PF, Vicente Chelotti, ex-corregedor-geral da Polícia, José Roberto abre a alma.

Em detalhes, confirma a longínqua e estreita relação da Polícia Federal com os serviços secretos dos Estados Unidos. No varejo, atesta o que Carlos Costa afirmou no atacado quando de sua entrevista a CartaCapital (edição 283, que pode ser encontrada no www.cartacapital.com.br, na seção Grampos e Espionagem junto a outras sete edições que tratam do mesmo tema, a presença de CIA, DEA, FBI e assemelhados, e as atividades de espionagem dos EUA no Brasil).

O delegado José Roberto ascendeu junto com Chelotti. O projeto previa, entre outros pontos, “enquadrar os americanos”. José Roberto, assim como outro delegado, Luís Carlos Zubcov, tentou enfrentar a CIA. Ambos caíram. Chelotti, relata o delegado, “perfilou-se com a CIA”.

O delegado desce a minúcias. Recorda os debates sobre a CIA na PF, vai muito mais além, mas também confirma, com a autoridade de quem viveu os fatos, o que CartaCapital revela, desde 99, sobre a ação dos serviços secretos dos EUA no Brasil.

José Roberto conta: o Centro de Dados Operacionais (CDO), depois chamado SOIP e hoje COIE, funcionou desde sempre em regime de informação compartilhada com a CIA. Dali foi feito o grampo que flagrou, em 1995, o presidente Fernando Henrique em conversas com o chefe do cerimonial, Júlio César Gomes dos Santos.

Conversas particulares, mas também sobre o Sivam, então de enorme intere$$e para a CIA e os Estados Unidos. (Em tempo. O grampo revelado por CartaCapital há três edições é outro. Foi feito diretamente por serviços secretos dos EUA nos palácios Alvorada e Itamaraty.) O delegado José Roberto recorda minúcias dos tempos FHC, como rememora sua ida a Washington para se submeter ao teste do detector de mentiras lá então aplicado pela CIA em policiais brasileiros.

O delegado, em seu retorno, escreveu a memorável peça, então documento “confidencial”, intitulado “São Tomé, Ver para Crer”. O documento, que depois seria parte de sindicância interna, integra também o processo que o levaria a se tornar um pária dentro da própria Polícia Federal, encostado nos corredores, sem função, pois não havia quem, em pleno governo Fernando Henrique, decidisse “enfrentar os americanos e abrir mão das verbas deles”.

José Roberto terminou requisitado pela Presidência da República para a ABIN, e de lá assistiu à queda de Chelotti. Pouco adiantou. O enfrentamento, inclusive em uma reunião dentro do próprio CDO, selara seu destino. Ninguém, então, arrostava os norte-americanos dentro da PF e via a carreira sobreviver.

Rômulo Fish de Berrêdo Menezes, 36 anos, da Corregedoria e lotado no Senado no momento, é outro delegado da Polícia Federal. Rômulo é autor do relatório que percorre a história das sindicâncias e rastreia os passos da CIA – ou dos “americanos”, como diz ele quando se prende às formalidades legais – dentro da PF, na base do CDO, hoje COIE.

O relatório, brilhante e corajoso, assegura não existir sequer amparo legal para a existência do CDO-COIE nas bases em que funciona, com subvenção dos Estados Unidos.

Na entrevista a CartaCapital Berrêdo descreve o quase inacreditável. Como, até o ano 2000, nas dependências da Polícia Federal um doleiro fazia câmbio, para a PF, com dólares da CIA. Melhor, “dos americanos”. A revista IstoÉ, em sua edição passada, revelou a existência do doleiro e suas ligações.

Em seu relatório, minucioso, Berrêdo colhe o depoimento de 14 agentes e delegados e, ainda que sem descuidar das formalidades legais, na tomada de depoimentos, escancara, nas linhas e entrelinhas, as longevas pegadas da CIA dentro da casa da polícia do Brasil.

Quinta-feira 15. Final da tarde, avenida L2 Sul, Brasília, Procuradoria da República. O doleiro Georges Fouad Kammoun acaba de depor ao procurador Luiz Francisco Fernandes de Souza.

O doleiro Fouad relata que sua relação com a PF teve início em 1988, tempos, aliás, em que se instalava a base CDO-CIA. No primeiro câmbio, US$ 170 mil. Ao longo de 12 anos, trabalhou cerca de 140 meses para a PF. Pelas contas do próprio doleiro – imagine-se tais contas – trocou-se algo como US$ 746 mil.

Fouad disse ao procurador imaginar que a própria embaixada dos Estados Unidos o indicou para o honorável posto de conversor de dólares dos americanos para a polícia do Brasil. Afirmou ainda, e isso Berrêdo descreve em sua entrevista a CartaCapital, que fazia palestras para os funcionários do CDO.

Em seguida à entrevista de Carlos Costa, dada a perplexidade que declarações devastadoras como aquelas provocam, seria natural que, como se deu, cidadãos ansiassem por mais evidências, provas.

Nesse sentido, parecem ser implacáveis, definitivas, as entrevistas dos delegados José Roberto e Berrêdo nas páginas que se seguem. Um, o primeiro, viveu a história da CIA na Polícia Federal na própria pele. E pagou caro por isso.
O outro, Berrêdo, minuciosa e exaustivamente, recolheu as histórias, a história, as provas e a inexistência de amparo legal para tal parceria. Que já seria grave ainda que existissem acordos e convênios a resguardá-la. Um país, um Estado, não faz acordos, muito menos de submissão, com outro país. Muito menos com os Estados Unidos. E ainda menos com a CIA.

Quinta-feira 15, início da noite. O procurador Luiz Francisco envia ao diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, trechos do relatório final do delegado Rômulo Berrêdo, do doleiro Georges Fouad, encerrado pouco antes, e solicita o envio de “contas, recibos e despesas, realizadas desde 1988, com recursos oriundos da embaixada dos EUA”, em especial “os recebidos pelo CDO, atual COIE”.

Requer ainda o procurador “tombamento de bens obtidos com esses recursos” e, por fim, “recomenda” que a PF cesse “imediatamente de operar com o esquema de ‘caixa-preta’, ou seja, com recursos obtidos da embaixada dos EUA, ou de agências de investigação ou ligadas ao governo dos EUA...”. Por fim, o procurador solicita “abertura imediata de inquérito policial para apurar todos os fatos”.

A bem dos fatos, registre-se que quanto ao inquérito policial a própria polícia se antecipou. Com base na entrevista de Carlos Costa e nas edições 283 e 284, o diretor da PF, Paulo Lacerda, já ordenara a instauração de um inquérito policial.

O pedido de inquérito, datado de 7 de abril, é amplo. Abarca desde indícios de prevaricação à possível violação de soberania, e eventuais crimes na utilização de verbas. O pedido do procurador na noite da quinta e qualquer outro que seja feito nesse caso serão agregados. Recorde-se que um inquérito como esse só poderá ser arquivado por decisão da Justiça.

Comentário Politicamente (In)Correto

Passados 6 anos, nada de concreto foi feito e os traidores continuam trabalhando nos mesmos lugares, como diz a expressão, só mudaram algumas moscas.