Uma das mazelas (entre várias), que ataingem o estado brasileiro, é o gigantesco número de cargos comissionados, aqueles de indicação dos ocupantes dos cargos eletivos no executivo.
Compete ao prefeito, governador e presidente da república a indicação de diretores, presidentes, superintendentes e toda uma penca de cargos de primeiro, segundo, terceiro ao enésimo escalão de autarquias, estatais e toda a ordem de insituições públicas.
Via de regra, a indicação atente uma barganha política ou simplesmente indicar um parasita partidário, que vai dar parte do seu salário ao partindo, como pedágio para continuar mamando na teta. Eu mesmo conheço uma leva de ex-colegas de universidade e de pós graduação, alçados a cargos no executivo, sem nunca na vida terem trabalhado de verdade.
O controle para evitar isso, deveria ser exercido pelos legislativos, mas com mensalões de todos os tipo e partidos, a aprovação se torna automática. O exemplo máximo são as indicações de juízes de cortes superiores, onde até um advogado partidário consegue aprovação automática.
Se nessas situações críticas, que são as cortes superiores a coisa já degringolou a muito tempo, imaginem naquelas áreas onde não há o mínimo interesse dos "gestores públicos", como na cultura.
Sobre isso, Ney Gastal, jornalista em Porto Alegre e ex diretor de museu, comenta o que está acontecendo no MASP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).
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A notícia abaixo, da Folha de São Paulo, retrata um aspecto terrível da realidade cultural brasileira.
FERNANDA MENA
da Reportagem Local
De 1968 a 1995, eles sustentavam Van Goghs, Rembrandts e Caravaggios. Essa memória, no entanto, dificilmente é evocada pelo par de "biombos" de vidro que separam a cozinha e a fila do caixa no restaurante do Masp hoje. É esse o destino que tiveram dois cavaletes de vidro projetados pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi (1914-1992) como suporte para obras do museu.
"Isso aí não é original. Só colamos um plástico no vidro fosco para bloquear a visão da cozinha", explica uma funcionária do restaurante, que fica no subsolo do prédio concebido por Lina nos anos 60.
A administração do museu afirma que as peças são réplicas feitas pelo restaurante. "É para usar a mesma linguagem do museu", disse à Folha o diretor Luiz Pereira Barreto.
Danilo Verpa/Folha Imagem |
"Réplicas" do cavelete de vidro de Lina usados como divisória no restaurante do museu |
Confrontado com o fato de as "réplicas" apresentarem quatro buracos na estrutura do vidro, úteis para fixar quadros, mas não para a função de biombo, Barreto disse que o restaurante "pode ter usado algum vidro que estava sobrando". "Aquilo é um cubo de concreto com vidro. Qualquer um faz", diz.
Ideário modernista
Para o arquiteto Marcelo Ferraz, que trabalhou com Lina por 15 anos, o argumento é uma "desculpa esfarrapada". "Réplica ou não, trata-se do projeto da Lina, que faz parte do Masp tanto quanto o edifício", avalia. "Essa utilização é uma violência contra um ideário modernista, que por si só precisa ser respeitado. É como se fizessem uma réplica de uma cadeira de design consagrado e a transformassem numa privada."
"É assustador! Mas infelizmente é essa a maneira como o Masp tem tratado a obra da Lina", lamenta Solange Farkas, diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia, também projetado pela arquiteta.
A simplicidade da peça idealizada por Lina contrasta com a ousadia de sua proposta: libertar a obra de arte das paredes, criando a ilusão de que flutuam no espaço, numa convergência com o projeto do próprio prédio, suspenso na avenida Paulista.
Utilizados como suporte para o acervo do museu desde sua inauguração, em 1968, os cavaletes foram retirados do espaço expositivo e levados a um depósito durante a gestão do curador Luiz Marques, hoje professor de história da arte da Unicamp.
"Sou radicalmente contra os cavaletes de vidro, mas eles têm sua dignidade histórica e não devem virar móveis e utensílios pura e simplesmente", diz Marques.
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