quinta-feira, 19 de março de 2009

Protógenes e as escutas fantasmas

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A revista "veja", que é tão confiável quanto um batedor de carteiras dentro de um banco em dia de pagamento, de aposentadorias de velhinhos, em suas últimas capas, tem teclado na mesma tecla, os grampos do Protógenes. A revista tecla, tecla, tecla e nada de provar coisa nenhuma.

Posso até estar errado, mas o Protógenes, com ou sem grampo, é a bola da vez, para desviar o foco dos que deveriam ser investigados. Ou talvez porque tenha ofendidos uma galera porque, até onde se sabe, não aceitou esse objeto esférico, no sentido figurado.

Não acho que o cara seja nenhuma santo, mas é só ver quem tá batendo nele que eu já acho que merecemos dar um voto de confiança "pro delega".

Se a "veja" sabe tanto, mas tanto, porque até agora não mostrou uma gravação, documento ou qualquer coisa que prove que o Protógenes gravou metade da população economicamente ativa da E$bórnia e toda a inativa (essa última concentrada principalmente na classe política).

Daqui a pouco todo mundo, para ter status, comer as garotinhas e for candidato a alguma coisa, vai dizer que foi gravado pelo delegado, algo como ser universitário comunista "ligth" nos anos 70.

Já pensaram, na próxima eleição vai ter candidato a vereador com suas biografias de ex (afinal, político nunca é, só foi), usando isso nos seus 15 segundos de TV. Fulano de tal, ex-líder estudantil, ex-lider sindical, ex-trabalhador, ex-honesto, ex-citado nas gravações do delegado.

parágrafo primeiro. Ex citado ficou estranho né? Mas ai pode ser outra razão que o delegado não sai da boca de outros, aquele amor e ódio, entende, hehehe.

A única gravação que apareceu, e que deu origem a série, foi a do dono do judiciário com o senador do DEM (a sigla do dem devia ser a dos sem, para um bom entendedor isso basta e não dá processo). agravação não passa de uma conversinha sem vergonha (entendeu agora!!!), uma piada, uma conversa amigável que pode ter sido gravada pelos dois tomando um "isquinho" na esquina e combinado sacanear o delegado.

A revista Caros Amigos de dezembro de 2008 (sei que os meus seis fieis e cativos leitores leram), publicou uma entevista com o Prótogenes, que eu pirateio aqui e não peço desculpas, pois acho que deveria ser mais divulgada. O trecho aqui transcrito é um dos que o delegado fala na investigação das contas CC5 e um pouco da Satiagraha.

Com os nomes e endereço dos bois, ao contrario das gravações fantasmas. Vendo os nomes dos bois e quanto se tem mais de dois neurônios, a gente consegue somar um mais um e entender porque o pessoal do PFL, atualmente DEM e eternamente SEM, quer a cabeça dele. Tem presidente, ex e atuais ministros, que nome tava no cheque que pagou a fiança de um bandido, enfim, uma perola que merece ser lida. Procure a revista ou escreva para a editora.

Aqui vai o trecho:

PALMÉRIO DÓRIA - E o Fernandinho Beira Mar?
Onde foi preso? Na selva colombiana, 1999. Saio com a missão concluída. Vou pra Brasília. E tinha um ofício para me apresentar em Foz do Iguaçu. Investigar lavagem de dinheiro, evasão de divisas no Cone Sul. Batizei de Operação Macuco [o "caso Banestado" Banco do Estado do Paraná]. Macuco é típico da região, quem achar um ovo azul do macuco tem vida longa. Se todo o mundo procura e não está vendo, vamos ver se a gente enxerga. Foi um trabalho complexo, todo o mercado financeiro envolvido, internacional também, até o Banco Central do Paraguai. E o nosso.

PALMÉRIO DÓRIA - O maior vazador de grana do Brasil.
A maior lavanderia se instalou ali, e com apoio político. Começamos a escanear todo aquele processo, identificando os atores.

WAGNER NABUCO -O Gustavo Franco mudou a norma e permitiu que os bancos fizessem lavagem, não?
Tenho receio quando se muda uma lei do sistema financeiro. As leis, feitas pelos banqueiros, são para beneficiar a si próprios. Como agora. A norma estabelecia regras para a conta CC5. É conta de não-residente, de estrangeiro no Brasil. Em linguagem fácil: estrangeiro vem portando 100.000 dólares e quer comprar alguma coisa. Quer ter uma vida social aqui, e pega esses 100.000 e registra. Se investe numa carrocinha de pipoca, o dinheiro gerado ele vai depositar nessa conta CC5, que permite a ele voltar com esses recursos ganhos. Ela foi feita, na concepção reconhecida mundialmente, pra trazer investimentos pro país. Não pagava imposto.

MYLTON SEVERIANO - E como é que os bandidos do colarinho branco usam?
No caso Banestado, o esquema é montado com banqueiros do Brasil, pra tirar dinheiro daqui. Se pegar os recursos que ingressaram e os que saíram, vai ver, saiu mais dinheiro do que entrou.

WAGNER NABUCO - Eles precisavam de uma empresa-fantasma.
Ou montava uma empresa-laranja, ou eram estrangeiros-laranja. Até mesmo brasileiro que se permitia dizer que vendeu algum bem pro estrangeiro e depositava na conta desse estrangeiro que não existia. Simples. O sujeito abria poupança com 10 reais. No dia seguinte, chegava com 100.000. E o gerente aceitava. E sucessivamente. Transferia para a CC5, dizendo que tinha vendido algum bem para aquela "empresa" estrangeira. Eles usavam pessoas humildes, empregada doméstica, desempregado, ambulante. Por que surgiu o "conheça o seu cliente"? Porque o Protógenes começou a prender gerente, diretor, e a discutir, "não leve a mal, mas vocês estão sendo indiciados porque, como é que, em sã consciência, aceitam abrir conta de um pipoqueiro com 10 reais e no dia seguinte aceitam 100.000 sem falar 'Você vendeu muita pipoca, hein?', e não aceito dizer que precisa cumprir metas". Mas chega um momento que o volume de dinheiro era tão grande, que o gerente passou a entrar no esquema. Quando passa a cumprir hora extra, chegar mais cedo, sair mais tarde, virar a noite, já foi tragado pelo sistema e já recebe pra abrir conta laranja. O lavador de dinheiro já não tinha preocupação, "ô, meu amigo, abre mil contas pra mim aí".

WAGNER NABUCO -E aí já estava abrindo conta com CPF falso.
Tinha de tudo. Mais de 100 bilhões de dólares saiu. Tinha um ex-diretor do Banco Central paraguaio que consegui o mandado de prisão. Saturnino Ramirez. Movimentou 1 bilhão e 400 milhões de dólares num ano e meio. Identifiquei caixa dois, dinheiro de narcotráfico. O grande volume foi de desvio de recurso público, o que me deixou chateado. Aí pegamos os políticos. Sim, Maluf estava lá. Daniel Dantas.

WAGNER NABUCO -Não entra só político.
Tem OAS, Mendes Júnior, Odebrecht, a Queiroz Galvão. Todas as grandes construtoras. Você vai investigando, vai dar nas construtoras e na concorrência pública. E nos políticos.

MYLTON SEVERIANO - Em Foz do Iguaçu quem foi preso?
Muitos. Passei quase dois anos lá. O primeiro ano foi difícil, começo a cercar os tubarões. Indiciei o sobrinho do Jorge Bornhausen, Alberto Dalcanalle Neto, em 174 inquéritos, vou para Curitiba, muita pressão. Fiz inspeção no banco dele, Araucária, logo o Banco Central fechou o banco. O presidente do Banco Central era o Armínio Fraga, "doutor Protógenes, estamos preocupados", falei "quer arrumar um instrumento para me ajudar, fecha as contas CC5, o senhor acaba com a evasão de divisa, lavagem de dinheiro, estou enxugando gelo". Qual era a resposta? "Se a gente fizer isso, cai todo o mundo aqui, não dá, faz parte do sistema." Convidei colegas a ir embora ou se danar comigo, "vou passar urucum no rosto".

MYLTON SEVERIANO - O que significa passar urucum no rosto?
Vou guerrear, com instrumentos que a lei me permite, falei "vamos pegar um caso de reflexo internacional". Começamos a investigar um garoto chamado Victor Hugo Nunes, bonito, classe média. Transportava dinheiro do Paraguai e depositava na CC5. Sobrinho de uma senadora do Paraguai. Um dia, transportando 3 milhões e uns quebradinhos, de motocicleta, atravessou pro Brasil, na avenida Kennedy a gente "blum!". Arrancamos a mochila, cheio de cheque. Engraçado que tinha um disquete já com a compensação do banco. A coisa estava tão sofisticada que, além dos 3 milhões, tinha mais alguns já compensados, colocava no computador e transferia: aquele dinheiro já tava em outro lugar. Que acontece quando prende alguém importante? Gritou imprensa, embaixadora, Parlamento, presidente do Paraguai. Na semana seguinte fecharam as contas CC5. Aí, manter preso o garoto. Tinha o juiz, eu disse "doutor Emerson, ele tem direito a fiança", e foi a mais alta arbitrada no país. Pedi um milhão. O Emerson falou "você é louco, eu sou juiz novinho", falei "também sou novo, se a gente não fizer isso não vamos acabar com a lavagem de dinheiro, estão sangrando o país, aperta a caneta aí". Ele colocou 500 mil reais. A estratégia era saber quem ia pagar. Sabia que era alguma autoridade. O garoto foi solto, cheque de quem? Presidente do Banestado. Reinhold Stephanes.

MYLTON SEVERIANO -Atual ministro da agricultura.
Aí comprovei que estava no esquema. Pra se livrarem do problema maior fecham as contas CC5. Permaneci um tempo, porque tentaram, um banqueiro, uns doleiros, me comprar, ofereceram 5 milhões de dólares, e viram que não tinha chance, aí fizeram um plano pra me executar. Minha esposa grávida teve que ir embora, eu andava com quatro colegas fazendo a segurança.

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PALMÉRIO DÓRIA -Estamos prontos para falar da Satiagraha? Como ela sai do mensalão e vira o que virou?

A origem não é mensalão, é Operação Chacal. A investigação da Parmalat, envolvida em fraude na Itália e no Brasil. Lavagem de dinheiro, evasão de divisas. Investigação presidida pelo delegado Elpídio Nogueira. Ele monta uma estação de trabalho em São Paulo, em 2003, 2004. O Elpídio entra em parafuso, vai para tratamento. E o doutor Paulo [Lacerda, ex-chefe da PF] decidiu ficar em cima da Kroll, junto com a Parmalat, a que a Kroll prestava serviço. E descobre que a Kroll é uma empresa americana de espionagem. Uma estação privada da CIA aqui. Esse volume de dados vai para a diretoria de inteligência, e descobrimos que a Kroll seria também um braço de espionagem que servia ao grupo Opportunity, à BrasilTelecom. E nasce uma operação para investigar a Kroll. A Operação Chacal.

MARCOS ZIBORDI - Daí sai o HD do Oppotunity, na verdade cinco.

Não. É um. Ele depois é copiado. Na Chacal, vem junto o grupo Opportunity do Daniel Dantas. Ele usa a Kroll para espionar adversários dele.

WAGNER NABUCO - Gente do governo?

Sim. Gushiken, ministro da Comunicação, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, presidentes de banco, Fundos de Pensão, Banco Central, Banco do Brasil, ministros... Pra que possa ter um dossiê de todas essas pessoas. Quando a Chacal chegou no Opportunity é que apreende um HD. Estava ligado ao desktop ligado ao banco. Tipo 160 gigas de memória. O juiz determina a apreensão, e quando chega a Brasília já tem um grupo de advogados com decisão judicial para lacrar. O Ministério Público recorre e vai ao TRF [Tribunal Regional Federal] e me parece que o TRF determina que se abra o HD. Aí o Opportunity vai ao STF [Supremo Tribunal Federal] e o STF determina que se lacre.

PALMÉRIO DÓRIA - Ellen Gracie?

Ministra Ellen Gracie. Uma decisão oportunista. O que é que pode ter um HD que a Justiça não possa conhecer, a polícia? E fica uns dois anos parada a investigação. Aí surge o mensalão. Tudo no País, as grandes fraudes, podem ter certeza que não são visíveis de imediato. Mas vai ser visível. A mentira perdura pouco. A verdade é eterna. Igual ao caso Maluf. Com um pedido vagando no espaço, de quebra de sigilo, três anos, e veio tudo. O suficiente para o povo conhecer que houve desvio de dinheiro público, corrupção.


Só um PS. A E$bórnia e os e$bornianos são umas ______________ (complete)


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