.
Somos, constitucionalmente, um estado laico que não deveria permitir as demonstrações de crendices, de todos os tipos, em suas ações e em suas instituições.
Apesar disso, crentes de diversas superstições, em especial os chamados cristãos, de uma forma ou de outra, tentam impor sua "fé", nas funções, nas ações de estado e em nossas consciências e comportamentos.
Em 4 de agosto de 2009, o Ministério Público de São Paulo, ajuizou, corretamente, uma ação pedindo a retirada de simbolos religiosos das repartições públicas. Quando então, o frade Demétrius dos Santos da Silva, se manifestou:
Abaixo a posição do padre e depois os comentários inteligentes do jornalista Ney Gastal.
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A carta do padre
Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas…
Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião.
A Cruz deve ser retirada!
Aliás, nunca gostei de ver a Cruz em Tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas;
Não quero mais ver a Cruz nas Câmaras legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte;
Não quero ver, também, a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados;
Não quero ver, muito menos, a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento;
É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças; das misérias e sofrimentos dos pequenos; dos pobres e dos menos
favorecidos.
Frade Demetrius dos Santos Silva
São Paulo/SP – 27.02.2010.
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Os comentários de Ney Gastal
Então tá.
Vamos ver.
A cruz é um logotipo de marketing.
É um símbolo simples, de fácil aceitação.
Um risco sobre outro.
Tem um pequeno defeito, em termos de comunicação visual.
É estático. Parado.
Bem ao contrário da suástica, que existe há milhares de anos e na origem nada tem a ver com o nazismo.
A suástica - também um tipo de cruz - é móvel.
Assim como a suástica, na origem, nada tem a ver com o nazismo, a cruz nada tem a ver com o Cristo vivo.
O símbolo de Jesus vivo era a palma, a folha da palmeira.
Ele a usava em contraponto a águia do Império Romano.
Ele a usava como alternativa à espada.
Os primeiros cristãos, após a crucificação, trocaram a palma pelo peixe.
Enquanto a igreja primitiva seguiu os ensinamentos de Jesus, seu símbolo foi este.
Foi só quando virou uma estrutura borocrática pesada e armada (a espada) que ela resolveu adotar outro símbolo, mais forte.
A águia, outra águia?
Seria demais.
Tomaram de uma pomba (lincando ao Velho Testamento, o dilúvio, Noé, etc) para representar o Espírito Santo.
E, no lugar da espada com que se armava, a Igreja deu de mão na cruz, que até é parecida.
Pronto.
Estava completo o abandono de toda e qualquer vinculação com os ensinamentos de Jesus.
Desde então, a Igreja Católica é um poder secular, uma estrutura burocrática, uma nação com a cabeça nas nuvens.
O Brasil é um estado laico.
Mais do que não dever, não pode ter símbolos religiosos em prédios públicos.
Nenhum, quanto menos apenas um.
A argumentação perigosamente cínica de frei Demétrius poderia nos levar a outras tantas, do mesmo baixo quilate.
Tipo assim:
Não gosto de ver a cruz em nome da qual a Inquisição torturou e matou através de "julgamentos" forjados em nossos tribunais.
Não gosto de ver a cruz em nome da qual os cruzados semearam o ódio que até hoje grassa no Oriente Médio em nossas repartições públicas.
Não gosto de ver a cruz em nome da qual milhares de livros foram indexados, proibidos e queimados em nossas escolas.
Não gosto de ver a cruz que representa o Vaticano, um estado imerso em riquezas, em nossos prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento.
Não gosto de ver a cruz na qual a burocracia da Igreja crucificou a doutrina de Jesus sequer nas igrejas de nosso país.
Tenho certeza de que o próprio Jesus também não gostaria.
Mas todos estes argumentos seriam tão perigosamente cínicos quanto os de frei Demétrius.
Então não vou usá-los.
Vou apenas me limitar a dizer que a Igreja Católica Apostólica Romana (e as outras) não é em nada diferente, nos defeitos, ao Estado Brasileiro.
É apenas muito mais antiga e tem muito mais prática na trampolinagem.
Por isso, melhor será que cada um trate mais de seus assuntos e respeite mais os dos outros.
Afinal, pelo menos até onde se saiba, ainda não há na cúpula do Estado Brasileiro o hábito repetido e frequente da pedofilia.
Não é?
Ney Gastal
PS: Curiosidade. No grego clássico em que se baseiam as traduções da Bíblia (não, o original mais antigo conhecido não é em aramaico) está escrito que Jesus foi morto no stauros (stau.rós), ou "estaca de tortura". Esta era a forma usual de execução dos romanos, uma estaca vertical, sem sequer travessa no topo, quanto mais cruzada um pouco acima da metade. Não existe, no texto sagrado original nem nos textos de Josephus, historiador romano que tratou do assunto, qualquer referência à palavra ou ao objeto "cruz". Esta, como o Cristo loiro de olhos azuis em plena Galiléia, são criações da Igreja Católica em suas encomendas de quadros e manipulação de traduções. Ou seja, símbolos de marketing (em um tempo onde esta expressão ainda não existia) para vender melhor um produto entre a população européia.
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Somos, constitucionalmente, um estado laico que não deveria permitir as demonstrações de crendices, de todos os tipos, em suas ações e em suas instituições.
Apesar disso, crentes de diversas superstições, em especial os chamados cristãos, de uma forma ou de outra, tentam impor sua "fé", nas funções, nas ações de estado e em nossas consciências e comportamentos.
Em 4 de agosto de 2009, o Ministério Público de São Paulo, ajuizou, corretamente, uma ação pedindo a retirada de simbolos religiosos das repartições públicas. Quando então, o frade Demétrius dos Santos da Silva, se manifestou:
Abaixo a posição do padre e depois os comentários inteligentes do jornalista Ney Gastal.
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A carta do padre
Sou Padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo, por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas…
Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião.
A Cruz deve ser retirada!
Aliás, nunca gostei de ver a Cruz em Tribunais, onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são barganhadas, vendidas e compradas;
Não quero mais ver a Cruz nas Câmaras legislativas, onde a corrupção é a moeda mais forte;
Não quero ver, também, a Cruz em delegacias, cadeias e quartéis, onde os pequenos são constrangidos e torturados;
Não quero ver, muito menos, a Cruz em prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento;
É preciso retirar a Cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa das desgraças; das misérias e sofrimentos dos pequenos; dos pobres e dos menos
favorecidos.
Frade Demetrius dos Santos Silva
São Paulo/SP – 27.02.2010.
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Os comentários de Ney Gastal
Então tá.
Vamos ver.
A cruz é um logotipo de marketing.
É um símbolo simples, de fácil aceitação.
Um risco sobre outro.
Tem um pequeno defeito, em termos de comunicação visual.
É estático. Parado.
Bem ao contrário da suástica, que existe há milhares de anos e na origem nada tem a ver com o nazismo.
A suástica - também um tipo de cruz - é móvel.
Assim como a suástica, na origem, nada tem a ver com o nazismo, a cruz nada tem a ver com o Cristo vivo.
O símbolo de Jesus vivo era a palma, a folha da palmeira.
Ele a usava em contraponto a águia do Império Romano.
Ele a usava como alternativa à espada.
Os primeiros cristãos, após a crucificação, trocaram a palma pelo peixe.
Enquanto a igreja primitiva seguiu os ensinamentos de Jesus, seu símbolo foi este.
Foi só quando virou uma estrutura borocrática pesada e armada (a espada) que ela resolveu adotar outro símbolo, mais forte.
A águia, outra águia?
Seria demais.
Tomaram de uma pomba (lincando ao Velho Testamento, o dilúvio, Noé, etc) para representar o Espírito Santo.
E, no lugar da espada com que se armava, a Igreja deu de mão na cruz, que até é parecida.
Pronto.
Estava completo o abandono de toda e qualquer vinculação com os ensinamentos de Jesus.
Desde então, a Igreja Católica é um poder secular, uma estrutura burocrática, uma nação com a cabeça nas nuvens.
O Brasil é um estado laico.
Mais do que não dever, não pode ter símbolos religiosos em prédios públicos.
Nenhum, quanto menos apenas um.
A argumentação perigosamente cínica de frei Demétrius poderia nos levar a outras tantas, do mesmo baixo quilate.
Tipo assim:
Não gosto de ver a cruz em nome da qual a Inquisição torturou e matou através de "julgamentos" forjados em nossos tribunais.
Não gosto de ver a cruz em nome da qual os cruzados semearam o ódio que até hoje grassa no Oriente Médio em nossas repartições públicas.
Não gosto de ver a cruz em nome da qual milhares de livros foram indexados, proibidos e queimados em nossas escolas.
Não gosto de ver a cruz que representa o Vaticano, um estado imerso em riquezas, em nossos prontos-socorros e hospitais, onde pessoas pobres morrem sem atendimento.
Não gosto de ver a cruz na qual a burocracia da Igreja crucificou a doutrina de Jesus sequer nas igrejas de nosso país.
Tenho certeza de que o próprio Jesus também não gostaria.
Mas todos estes argumentos seriam tão perigosamente cínicos quanto os de frei Demétrius.
Então não vou usá-los.
Vou apenas me limitar a dizer que a Igreja Católica Apostólica Romana (e as outras) não é em nada diferente, nos defeitos, ao Estado Brasileiro.
É apenas muito mais antiga e tem muito mais prática na trampolinagem.
Por isso, melhor será que cada um trate mais de seus assuntos e respeite mais os dos outros.
Afinal, pelo menos até onde se saiba, ainda não há na cúpula do Estado Brasileiro o hábito repetido e frequente da pedofilia.
Não é?
Ney Gastal
PS: Curiosidade. No grego clássico em que se baseiam as traduções da Bíblia (não, o original mais antigo conhecido não é em aramaico) está escrito que Jesus foi morto no stauros (stau.rós), ou "estaca de tortura". Esta era a forma usual de execução dos romanos, uma estaca vertical, sem sequer travessa no topo, quanto mais cruzada um pouco acima da metade. Não existe, no texto sagrado original nem nos textos de Josephus, historiador romano que tratou do assunto, qualquer referência à palavra ou ao objeto "cruz". Esta, como o Cristo loiro de olhos azuis em plena Galiléia, são criações da Igreja Católica em suas encomendas de quadros e manipulação de traduções. Ou seja, símbolos de marketing (em um tempo onde esta expressão ainda não existia) para vender melhor um produto entre a população européia.
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