terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Falando em pinochet... Lembrando de Victor Jara

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Recebi essa narração do N, com Y, não ia colocar aqui, mas como falei do porco do pinochet no post anterior, achei que valia a pena um post.

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Direitistas e esquerdistas sectários e radicais sonham o mesmo sonho, da ditadura deles próprios sobre o resto todo.

Vamos cuidar para não perder a perspectiva das coisas. Graças à desonestidade de tantos políticos e a messiânica ânsia pelo poder de nosso presidente e de sua "patota", cujo comportamento às vezes lembra o dos Romanoff ou de Maria Antonieta, a direita anda elétrica e sassaricando, fingindo santidade como se não tivesse velhos pecados a purgar.
Cuidado.

Ditaduras são todas igualmente ruins e violentas. Como hoje em dia se escuta falar muito nas de esquerda, vale lembrar o exemplo reverso, como o acontecido no Estádio Nacional de Santiago do Chile, no dia 16 de setembro de 1973, pouco depois do golpe liderado por Pinochet ter derrubado o governo democraticamente eleito de Salvador Allende.

Recordar é viver

N.


Relato de um dia sangrento por Manuel Cabazas

"Os detidos que não comiam nem bebiam há três dias vomitavam sobre os cadáveres dos seus camaradas estendidos por terra... A certa altura, Victor desceu para perto da porta por onde entravam os presos e de lá se dirigiu ao comandante. Este olhou-o e fez o gesto de quem toca guitarra. Victor sorriu tristemente, dizendo que sim com a cabeça. O militar sorriu por sua vez, contente com a sua descoberta. Chamou quatro soldados para imobilizarem Victor e ordenou que se colocasse uma mesa no centro da 'cena', para que todos assistissem ao espetáculo que se iria desenrolar à sua frente.


Levaram Victor e mandaram-no pôr as mãos em cima da mesa. Nas mãos de um oficial, um machado surgiu (dias depois, este oficial declarava à imprensa: "Tenho duas belas crianças e um lar feliz"). De uma pancada seca, cortou os dedos da mão esquerda; depois, nova pancada e foi a vez dos dedos da mão direita. Ouviram-se os dedos a caírem sobre o tampo de madeira; vibravam ainda. O corpo de Victor tombou inesperadamente. Ouviu-se o urro colectivo de 6000 detidos. Esses 12 000 olhos viram o mesmo oficial lançar-se sobre o corpo do artista gritando: "Canta agora, para a puta da tua mãe!", e continuava a agredi-lo com pancadas.


Nenhum dos detidos se poderá esquecer da face desse oficial, de machado na mão, os cabelos em desordem... Victor recebia os pontapés enquanto o sangue jorrava das suas mãos e a cara se tornava roxa. De repente, Victor tentou penosamente levantar-se e, como um sonâmbulo, dirigiu-se para a bancada, os seus passos pouco firmes, os joelhos trémulos e ouviu-se a sua voz gritar: "Vamos fazer a vontade ao comandante!" Momentos depois conseguiu endireitar-se e, levantando as suas mãos encharcadas de sangue, numa voz de angústia, começou a cantar o hino da Unidade Popular, que toda a gente tomou em coro. Enquanto, pouco a pouco, 6000 vozes se levantavam, Victor, com as suas mãos mutiladas, marcava o compasso. Viu-se um estranho sorriso sobre o seu rosto...


Era demais para os militares; dispararam uma rajada e Victor dobrou-se para a frente, como que fazendo uma reverência perante os seus camaradas. Outras rajadas partiram das metralhadoras, mas estas dirigidas para aqueles que tinham cantado com Victor. Houve uma verdadeira ceifa de corpos, caindo crivados de balas. Os gritos dos feridos eram aterrorizadores. Mas Victor não os ouviu. Estava morto."


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Procura-se:
Victor Jara, perigoso cantor, poeta, compositor, comunista e professor da Universidade do Chile em Santiago. Também considerado um dos renovadores da musica chilena e latino americana.

Agravantes:
As músicas e textos de Jara serviriam de símbolo para grande parte da geração de chilenos que enfrentou a repressão nos anos de pinochet e seus gorilas fardados.


N, que escreveu a introdução do texto lá de acima, comparou Victor Jara a Chico Buarque (nos tempos da ditadura), e a Geraldo Vandré. Não acho, Victor Jara era mais poético que Chico Buarque e Vandré e muito mais envolvido com a política, sua vida era política e idealista, demonstrava isso em suas aulas, sua musica e nas organizações que estava envolvido. Foi preso indo para uma grande manifestação na Universidade do Chile, no dia do golpe.



Victor Jara, foi preso em 11 de setembro de 1973, torturado e morto no dia 16 de setembro , cinco dias depois do golpe de Estado que derrubou o presidente Salvador Allende, seu corpo foi jogado em um matagal ao sul de Santiago.

Posteriormente foi enterrado clandestinamente por sua mulher, Joan Jara e dois amigos, que temiam que seu corpo fosse destruído para encobrir as marcas da tortura e assassinato.


Victor Jara foi torturado e assassinado sob supervisão direta do ex-tenente do exécito
Edwin Dimter Bianchi, “El Príncipe”, que estava subordinado ao ex-coronel Mario Manríquez, que havia reconhecido o musico entre os presos do estádio.

Em 2007 "el principe" trabalhava impune e tranquilamente no Ministério do Trabalho do Chile já no governo de Bachelet quando La FUNA (organização que busca levar criminosos do regime pinochet à justiça), o reconheceu e o surpreendeu em pleno trabalho. Foi demidito e responde a processo.

Mariquez foi formalmente acusado em maio de 2008 pela justiça do Chile como o principal responsável pelo assassinato de jara, ainda hoje considerado um dos grandes representantes da "nova canção" latino-americana dos anos 60 e 70. Mas foi libertado pelo tribunal por falta de provas sólidas.

Estima-se que 6.000 pessoas foram presas no Estádio Nacional, logo após o golpe. Durante semanas foram torturadas. Perto de 1.000 foram mortas, seja pela tortura, fuzilamentos ou por diversão dos militares, em jogos de roleta russas ou simples tiro ao alvo. Todas as mulheres mantidas no "estádio" e que sobreviveram, relataram que foram vítimas de violência sexual.

O corpo de Victor Jara foi exumado por ordem da justiça, para confirmação de identidade. Na autópsia o legista confirmou 30 impactos de projéteis de arma de fogo.

El informe final de la autopsia realiza por el SML fue entregado ayer por el propio director del organismo, Patricio Bustos. La causa de muerte del cantautor Víctor Jara se produjo por múltiples heridas traumáticas de proyectil - más de 30- en el cráneo, tórax, abdomen, piernas y brazos.

Victor Jara foi enterrado oficialmente no dia 05 passado, 36 anos após seu assassinato.

12 mil pessoas acompanharam o seu enterro, estima-se que mais da metade deles tinha menos de 25 anos, nascidos muitos anos após seu assassinato. O funeral foi uma festa misturando as tradições indígenas do Chile com manifestações políticas. Para os brasileiros que acompanharam, a impressão que deu foi de um grande caranaval, para os chilenos um espera de mais de 30 anos e o reencontro com o passado.

Fedora Demsky Verdugo, funcionária do Ministério da Educação, observava a cena com um sorriso. Ela tem 59 anos e, ainda comunista, lembrou de cada minuto do golpe e da repercussão da morte do cantor. Disse que era bom ver tantos jovens, não sabe se os adolescentes sabem toda a história, mas a presença deles aqui é o sinal de que a figura e a mensagem de Victor sobrevive e ainda é forte.

Em 2003 o Estadio Nacional foi rebatizado como Estádio Victor Jara.

PS. No Brasil, até o momento existem mais de 500 desaparecidos políticos, militares e políticos covardes tem vergonha de encarar seu próprio passado.

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