sábado, 25 de setembro de 2010

A desconstrução da democracia brasileira

.
Um excelente texto de Villas-Bôas Corrêa, do JB Online

Nem a estreante candidata do presidente Lula, a ex-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, nem o candidato José Serra, o tucano ex-governador de São Paulo, são os responsáveis diretos pelo baixo nível da campanha, com a troca de insultos cada vez mais pesados, que parece bate-boca em fim de feira livre. Na verdade, ambos são vítimas de uma sucessão de desatinos, que mergulha o seu nascimento na ditadura militar que durou mais de 20 anos e que, como em calamidade que destrói um país, extirpou a democracia como quem arranca a planta com as suas raízes.

A ditadura militar dos cinco generais presidentes – de Castello Branco aos seis anos do João Batista de Oliveira Figueiredo, passando em cadência de quartel pelos generais Costa e Silva, a patusca Junta Militar dos três ministros Augusto Rademarker, da Marinha, Aurélio da Lira Tavares, do Exército, e Márcio de Souza Mello, da Aeronáutica; Emilio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e o seis anos do João Baptista de Oliveira Figueiredo – fez o serviço completo de destroçar a democracia, deixando as ruínas que ainda entopem o circo do Congresso de Brasília. 

A sinuca de bico desafia os desajeitados aprendizes do manejo do taco. Nem a candidata favorita, Dilma, nem o tucano José Serra, que já não tem mais nada a perder como mostra a série de pesquisas, ousam defender a urgente faxina no Congresso, o pior de todos os tempos e que deve ser superado pelo próximo, a julgar pelos candidatos que desfilam no palco do circo do horário de propaganda eleitoral, nas redes de emissoras de rádio e de televisão.
Nem adiantaria grande coisa. Trocar seis por meia dúzia não aumenta o capital. Antes de limpar por fora é preciso limpar por dentro, acabando com as mordomias, as vantagens, a orgia dos assessores, das passagens aéreas para o espichado fim de semana nas bases eleitorais, dos privilégios, da semana de três dias úteis e de notória inutilidade do pior Congresso de todos os tempos.

Claro que o futuro Senado e a novíssima Câmara não mexerão uma palha para o outro desafio de recuperar Brasília, a capital do sonho de Juscelino Kubitschek, vítima da sua sôfrega ambição da volta no JK-65. Nunca se entenderá por que uma bancada com a maioria e a excelência da representação do PSD no Congresso, de outro tempo, não tenha apresentado e aprovado a emenda constitucional definindo Brasília como o distrito federal, a capital do Brasil, com um administrador de livre nomeação do presidente da República, sede dos três poderes e com o controle da população prevista para no máximo de 350 a 400 mil habitantes.

A mudança para a capital em obras, sem as mínimas condições para abrigar milhares de famílias, plantou a semente da crise que ora assumiu a gravidade de uma epidemia. 

E chegamos a esta campanha medíocre, sem propostas para enfrentar os desafios que rolam intocados, pelos anos. E que chega a pouco mais de um mês das eleições do primeiro turno, em 3 de outubro, com denúncias de escândalos e a troca de desaforos de candidatos que não se respeitam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário