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Uma guerra para salvar a Otan (How Afghanistan Became a War for NATO)
Por Gareth Porter, do IPS News
Gareth Porter é historiador e jornalista especializado na política de segurança nacional dos Estados Unidos, escreve para o Inter Press Service News Agency. Autor de: “Perils of Dominance: Imbalance of Power and the Road to War in Vietnam” , editado em 2006.
Washington, Estados Unidos, 5/1/2011 – A guerra contra a insurgência no Afeganistão é vital para a segurança dos próprios Estados combatentes, afirma o comando da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). No entanto, parece que é mais importante para salvar a existência da própria aliança militar. A Otan desempenhou um papel central no Afeganistão devido à influência de funcionários norte-americanos em sua estrutura, segundo uma fonte militar dos Estados Unidos que pediu para não ser identificada. “Seu papel no Afeganistão tem mais a ver com a aliança militar do que com a situação desse país da Ásia central”, disse a fonte à IPS.
A Otan tem atualmente 140 mil soldados no Afeganistão, cem mil norte-americanos e os demais de alguns dos 26 países europeus e do Canadá, que completam esta aliança militar. Sua destacada participação se deve ao fato de o governo de George W. Bush (2001-2009) não desejava ter soldados ali que pudessem interferir com seus planos de controlar o Iraque.
O general James Jones, Comandante Aliado Supremo de 2003 a 2005, insistiu muito para que a Otan tivesse o principal papel em matéria de segurança no Afeganistão, segundo a fonte. “Jones vendeu ao então secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, a entrega do Afeganistão à Otan”, afirmou, acrescentando que o fez com todo o apoio de funcionários do Pentágono com responsabilidades na estrutura da aliança.
Jones reconheceu em entrevista ao serviço de imprensa das forças norte-americanas, em outubro de 2005, que a Otan se esforçava para não se tornar irrelevante após a dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia, que reunia os países do antigo bloco socialista para se contrapor à aliança militar do Ocidente. Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, deram à Otan nova oportunidade para demonstrar sua importância.
Os aliados opuseram-se à guerra do Iraque, mas queriam demonstrar seu apoio à estabilização e reconstrução do Afeganistão. Jones exortou os membros da aliança a enviarem soldados para o Afeganistão. Sua postura coincidia com os interesses das autoridades civis e militares da Otan e com a cúpula militar dos países-membros. Mas o problema é que a opinião pública nos Estados que integram esta aliança era cada vez mais contra um envolvimento no Afeganistão.
Para que os países-membros concordassem em enviar tropas para esse país entre 2003 e 2005, Jones garantiu que atuariam somente depois que os Estados Unidos tivessem derrotado o movimento islâmico Talibã. “Não se deve pensar que haverá uma insurreição como no Iraque. Simplesmente não acontecerá”, assegurou Jones em 2004, após uma visita ao Afeganistão. Com as garantias de Washington e Jones, em setembro de 2005, os ministros da Defesa da Otan concordaram formalmente que a aliança assumisse o comando sul do Afeganistão no ano seguinte.
Imediatamente houve discordâncias entre os Estados Unidos e os países da Otan. Alemanha, Canadá, Grã-Bretanha e Holanda venderam a missão no país asiático aos seus cidadãos como sendo de “manutenção da paz” ou de “reconstrução”, e não como sendo de contrainsurgência. Quando o governo de Bush quis mesclar os comandos dos Estados Unidos e da Otan no Afeganistão, alguns dos principais aliados rejeitaram a proposta porque suas missões eram diferentes. A França, por sua vez, estava convencida de que o governo Bush utilizava os efetivos da Otan para preencher o vazio deixado pelos soldados norte-americanos levados do Afeganistão para o Iraque, uma guerra à qual os aliados se opunham.
Os membros da Otan foram aprovando, uma após outra, “salvaguardas” que restringiam severamente a atuação de seus soldados em combate no Afeganistão. Contudo, a inteligência norte-americana informou que a insurgência aumentaria e se intensificaria na primavera de 2006.
Os debates públicos sobre a participação de efetivos da Otan sugerem “a existência de uma debilidade política da aliança”, alertaram o general Karl Eikenberry e o embaixador Ronald E. Neumann. Em 2005, Eikenberry foi comandante de todos os efetivos dos Estados Unidos no Afeganistão, e Neumann publicou em 2009 suas memórias sobre a missão nesse país.
Eikenberry reconheceu ainda que as táticas mais ofensivas do Talibã eram “um sinal de fraqueza”, apesar de ter assegurado que a insurgência estava sob controle. Não há sinais de que a situação no Afeganistão se torne como a do Iraque, disse Eikenberry ao ser consultado sobre essa possibilidade. Mas algumas semanas mais tarde, o Talibã lançou a maior ofensiva desde sua expulsão em 2001, apoderando-se das províncias de Helmand, Kandahar e várias outras do Sul.
Claramente sob as ordens de Rumsfeld, Eikenberry manteve a política de entregar o Sul do Afeganistão à Otan, em meados de 2006. No ano seguinte, foi recompensado e enviado a Bruxelas como vice-presidente do comitê militar da aliança. Eikenberry reconheceu, em fevereiro de 2007, perante o Congresso, que a política de delegar o Afeganistão à Otan só acontecia em beneficio da própria aliança. O funcionário argumentou que o fracasso no Afeganistão poderia “quebrar” a Otan, e classificou seu novo papel no país como um que poderia salvá-la. “A campanha do Afeganistão é uma forma de continuar a transformação da Otan”, afirmou.
A missão nesse país “pode significar o começo dos esforços mantidos pela Otan para realizar práticas operacionais em todos os âmbitos”, disse Eikenberry. Além disso, afirmou que a aliança poderia aproveitar o envio de efetivos ao Afeganistão para pedir urgência aos membros para uma “modernização militar”. A Otan foi um desastre absoluto no Afeganistão, escreveu o general canadense Rick Hillier, que comandou as forças da aliança nesse país entre fevereiro e agosto de 2004, em suas memórias “A Soldier First” (Um Soldado Primeiro), publicada em 2009.
Também afirmou que quando aceitou formalmente a responsabilidade do Afeganistão em 2003, a Otan “não tinha estratégia nem articulação clara do que desejava conseguir” e que sua atuação era “desastrosa”. A situação “se manteve inalterada” após vários anos de presença no Afeganistão, disse Hillier, que foi chefe do Estado Maior das Forças Armadas Canadenses entre 2005 e 2008.
A “Otan havia tomado um rumo que destruiu grande parte de sua credibilidade e terminou corroendo o apoio popular em cada um dos Estados-membros. O Afeganistão mostrou que a Otan chegou ao ponto de ser um corpo em decomposição”, acrescentou Hillier.
A Otan tem atualmente 140 mil soldados no Afeganistão, cem mil norte-americanos e os demais de alguns dos 26 países europeus e do Canadá, que completam esta aliança militar. Sua destacada participação se deve ao fato de o governo de George W. Bush (2001-2009) não desejava ter soldados ali que pudessem interferir com seus planos de controlar o Iraque.
O general James Jones, Comandante Aliado Supremo de 2003 a 2005, insistiu muito para que a Otan tivesse o principal papel em matéria de segurança no Afeganistão, segundo a fonte. “Jones vendeu ao então secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, a entrega do Afeganistão à Otan”, afirmou, acrescentando que o fez com todo o apoio de funcionários do Pentágono com responsabilidades na estrutura da aliança.
Jones reconheceu em entrevista ao serviço de imprensa das forças norte-americanas, em outubro de 2005, que a Otan se esforçava para não se tornar irrelevante após a dissolução da União Soviética e do Pacto de Varsóvia, que reunia os países do antigo bloco socialista para se contrapor à aliança militar do Ocidente. Os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, em Nova York e Washington, deram à Otan nova oportunidade para demonstrar sua importância.
Os aliados opuseram-se à guerra do Iraque, mas queriam demonstrar seu apoio à estabilização e reconstrução do Afeganistão. Jones exortou os membros da aliança a enviarem soldados para o Afeganistão. Sua postura coincidia com os interesses das autoridades civis e militares da Otan e com a cúpula militar dos países-membros. Mas o problema é que a opinião pública nos Estados que integram esta aliança era cada vez mais contra um envolvimento no Afeganistão.
Para que os países-membros concordassem em enviar tropas para esse país entre 2003 e 2005, Jones garantiu que atuariam somente depois que os Estados Unidos tivessem derrotado o movimento islâmico Talibã. “Não se deve pensar que haverá uma insurreição como no Iraque. Simplesmente não acontecerá”, assegurou Jones em 2004, após uma visita ao Afeganistão. Com as garantias de Washington e Jones, em setembro de 2005, os ministros da Defesa da Otan concordaram formalmente que a aliança assumisse o comando sul do Afeganistão no ano seguinte.
Imediatamente houve discordâncias entre os Estados Unidos e os países da Otan. Alemanha, Canadá, Grã-Bretanha e Holanda venderam a missão no país asiático aos seus cidadãos como sendo de “manutenção da paz” ou de “reconstrução”, e não como sendo de contrainsurgência. Quando o governo de Bush quis mesclar os comandos dos Estados Unidos e da Otan no Afeganistão, alguns dos principais aliados rejeitaram a proposta porque suas missões eram diferentes. A França, por sua vez, estava convencida de que o governo Bush utilizava os efetivos da Otan para preencher o vazio deixado pelos soldados norte-americanos levados do Afeganistão para o Iraque, uma guerra à qual os aliados se opunham.
Os membros da Otan foram aprovando, uma após outra, “salvaguardas” que restringiam severamente a atuação de seus soldados em combate no Afeganistão. Contudo, a inteligência norte-americana informou que a insurgência aumentaria e se intensificaria na primavera de 2006.
Os debates públicos sobre a participação de efetivos da Otan sugerem “a existência de uma debilidade política da aliança”, alertaram o general Karl Eikenberry e o embaixador Ronald E. Neumann. Em 2005, Eikenberry foi comandante de todos os efetivos dos Estados Unidos no Afeganistão, e Neumann publicou em 2009 suas memórias sobre a missão nesse país.
Eikenberry reconheceu ainda que as táticas mais ofensivas do Talibã eram “um sinal de fraqueza”, apesar de ter assegurado que a insurgência estava sob controle. Não há sinais de que a situação no Afeganistão se torne como a do Iraque, disse Eikenberry ao ser consultado sobre essa possibilidade. Mas algumas semanas mais tarde, o Talibã lançou a maior ofensiva desde sua expulsão em 2001, apoderando-se das províncias de Helmand, Kandahar e várias outras do Sul.
Claramente sob as ordens de Rumsfeld, Eikenberry manteve a política de entregar o Sul do Afeganistão à Otan, em meados de 2006. No ano seguinte, foi recompensado e enviado a Bruxelas como vice-presidente do comitê militar da aliança. Eikenberry reconheceu, em fevereiro de 2007, perante o Congresso, que a política de delegar o Afeganistão à Otan só acontecia em beneficio da própria aliança. O funcionário argumentou que o fracasso no Afeganistão poderia “quebrar” a Otan, e classificou seu novo papel no país como um que poderia salvá-la. “A campanha do Afeganistão é uma forma de continuar a transformação da Otan”, afirmou.
A missão nesse país “pode significar o começo dos esforços mantidos pela Otan para realizar práticas operacionais em todos os âmbitos”, disse Eikenberry. Além disso, afirmou que a aliança poderia aproveitar o envio de efetivos ao Afeganistão para pedir urgência aos membros para uma “modernização militar”. A Otan foi um desastre absoluto no Afeganistão, escreveu o general canadense Rick Hillier, que comandou as forças da aliança nesse país entre fevereiro e agosto de 2004, em suas memórias “A Soldier First” (Um Soldado Primeiro), publicada em 2009.
Também afirmou que quando aceitou formalmente a responsabilidade do Afeganistão em 2003, a Otan “não tinha estratégia nem articulação clara do que desejava conseguir” e que sua atuação era “desastrosa”. A situação “se manteve inalterada” após vários anos de presença no Afeganistão, disse Hillier, que foi chefe do Estado Maior das Forças Armadas Canadenses entre 2005 e 2008.
A “Otan havia tomado um rumo que destruiu grande parte de sua credibilidade e terminou corroendo o apoio popular em cada um dos Estados-membros. O Afeganistão mostrou que a Otan chegou ao ponto de ser um corpo em decomposição”, acrescentou Hillier.
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