sexta-feira, 11 de junho de 2010

Antes tarde do que MAIS tarde...

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Colaboração do N.

Sandra Starling é mais uma petista histórica a abandonar o barco.

Sai atirando, e mostrando os desvios de conduta de um partido que - houve época - já foi tido com sério até pelos adversários.

O sentimento que revela em Minas é o mesmo que se percebe no PMDB gaúcho em relação à mesma composição espúria por aqui.

PMDB e PT são adversários no mesmo campo, que até se apoiaram por respeito em diversos momentos históricos.

Mas composições eleitoreiras não fazem o estilo nem de um nem de outro.

Ou melhor, não faziam.

Hoje ambos são arremedos do que foram.

O PT compra quem pode, o PMDB se vende a quem der mais.

Resultado: se juntam e, juntos, se desmoralizam.

E o PSDB, com seus irmãos menores, vai ganhando espaço.

Restam vozes isoladas como a de Starling em Minas e Simon no Rio Grande do Sul, cada vez mais esmagadas pelo caciques.

Lula, Sarney, Temer, cruz credo.

2012 já chegou, no planalto central.

(Segue após o texto de Sandra.)

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Carta de desfiliação de Sandra Starling do PT

MANDA QUEM PODE, OBEDECE QUEM TEM JUÍZO

Adeus ao Partido dos Trabalhadores

Sandra Starling

Ao tempo em que lutávamos para fundar o PT e apoiar o sindicalismo ainda “autêntico” pelo Brasil afora, aprendi a expressão que intitula este artigo. Era repetida a boca pequena pela peãozada, nas portas de fábricas ou em reuniões, quase clandestinas, para designar a opressão que pesava sobre eles dentro das empresas.Tantos anos mais tarde e vejo a mesma frase estampada em um blog jornalístico como conselho aos petistas diante da decisão tomada pela Direção Nacional, sob o patrocínio de Lula e sua candidata, para impor uma chapa comum PMDB/PT nas eleições deste ano em Minas Gerais.

É com o coração partido e lágrimas nos olhos que repudio essa frase e ouso afirmar que, talvez, eu não tenha mesmo juízo, mas não me curvarei à imposição de quem quer que seja dentro daquele que foi meu partido por tantos e tantos anos. Ajudei a fundá-lo, com muito sacrifício pessoal; tive a honra de ser a sua primeira candidata ao governo de Minas Gerais em 1982. Lá se vão vinte e oito anos! Tudo era alegria, coragem, audácia para aquele amontoado de gente de todo jeito: pobres, remediados, intelectuais, trabalhadores rurais, operários, desempregados, professores, estudantes. Íamos de casa em casa tentando convencer as pessoas a se filiarem a um partido que nascia sem dono, “de baixo para cima”, dando “vez e voz” aos trabalhadores.

Nossa crença abrigava a coragem de ser inocente e proclamar nossa pureza diante da política tradicional. Vendíamos estrelinhas de plástico para não receber doações empresariais. Pedíamos que todos contribuíssem espontaneamente para um partido que nascia para não devermos nada aos tubarões. Em Minas tivemos a ousadia de lançar uma mulher para candidata ao Governo e um negro, operário, como candidato ao Senado. E em Minas (antes, como talvez agora) jogava-se a partida decisiva para os rumos do País naquela época. Ali se forjava a transição pactuada, que segue sendo pacto para transição alguma.

Recordo tudo isso apenas para compartilhar as imagens que rondam minha tristeza. Não sou daqueles que pensam que, antes, éramos perfeitos. Reconheço erros e me dispus inúmeras vezes a superá-los. Isso me fez ficar no partido depois de experiências dolorosas que culminaram com a necessidade de me defender de uma absurda insinuação de falsidade ideológica, partida da língua de um aloprado que a usou, sem sucesso, como espada para me caluniar. Pensei que ficaria no PT até meu último dia de vida. Mas não aceito fazer parte de uma farsa: participei de uma prévia para escolher um candidato petista ao governo, sem que se colocasse a hipótese de aliança com o PMDB. Prevalece, agora, a vontade dos de cima.

Trocando em miúdos, vejo que é hora de, mais uma vez, parafrasear Chico Buarque: “Eu bato o portão sem fazer alarde. Eu levo a carteira de identidade. Uma saideira, muita saudade. E a leve impressão de que já vou tarde.”

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PS:
De nós, gaúchos, dizem que somos egocêntricos, narcisistas, arrogantes e por aí afora.
Mineiros e paulistas, que nos consideram meio platinos, gostam muito de dizer estas coisas.
Mas cruzes, percebam no texto de Sandra:
"Em Minas (antes, como talvez agora) jogava-se a partida decisiva para os rumos do País naquela época. Ali se forjava a transição pactuada, que segue sendo pacto para transição alguma."
Minas se acha o umbigo do universo.
De lá surgiram fatos marcantes de nossa História, é verdade, mas vejam os principais:
+ Uma Inconfidência que não deu em nada e resultou na execução única de seu membro mais modesto, até hoje festejada como um grande ato;
+ um presidente que enterrou o Brasil em uma crise inflacionária que quase nos liquidou;
+ um golpe de estado que resultou na mais sangrenta ditadura que o país já sofreu;
+ e um santo barroco hábil em política, que poderia ser o contraponto a isto tudo, mas mineiramente saiu de cena antes de assumir a presidência.
Mesmo assim, os mineiros, agora como sempre, acham que é lá que " jogava-se a partida decisiva para os rumos do País".
Uai, sô!
E os narcisistas somos nós...

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