César Benjamin foi coordenador de campanhas do lula, de 1989 a 2004, agora depois de muito tempo, abre o verbo contra o PT e o lula,.
A entrevista, para o canal livre da Rede Bandeirantes, dá o que pensar, depois, um artigo na Folha de São Paulo, joga mais gasolina na fogueira.
Mas fica a pergunta, César Benjamin saiu do PT em 1995, por que demorou tanto tempo para falar as coisas que falou? Medo, jogada e interesses políticos?
De qualquer modo, dá o que pensar, mas você decide.
Entrevista de César Benjamin para a Rede Bandeirantes
Canal Livre, TV Bandeirantes, 31/07/05
Fundador do PT e coordenador da campanha de Lula a presidente em 1989, o cientista político César Benjamin foi um dos entrevistados por Roberto Cabrini, Fernando Mitre e Antônio Teles na edição do programa Canal Livre da TV Bandeirantes que foi ao ar no dia 31 de agosto de 2005. César deixou o PT em 1995.
Roberto Cabrini – O senhor acredita que o presidente Lula termina o seu mandato?
César Benjamin – Eu acredito que termina. Eu acho que não há, nesse momento, na sociedade brasileira nenhum setor minimamente significativo interessado em interromper o seu mandato. O impeachment é, antes de tudo, uma decisão política.
RC – Nós temos um presidente refém da oposição nesse momento?
CB – Eu acho que o Lula é refém de um pouco de tudo. Eu acho que ele é um presidente fraco. Vai terminar o mandato de maneira melancólica.
RC- E se for comprovado que ele sabia de tudo isso?
CB – Certamente a situação se agrava muito e nós teremos uma situação imprevista. A grande elite brasileira teme a possibilidade de que o vice-presidente José de Alencar assuma o governo, altere a política econômica e se credencie a como forte candidato para 2006. A gente prefere o Lula fraco chegando em 2006 a criar esse vazio de poder.
Fernando Mitre – Como o senhor vê a alegação do presidente Lula de que as elites estão tramando contra ele?
CB – Eu acho que o Lula desassociou aquilo que ele faz daquilo que ele diz. Ele é capaz de demitir o Olívio Dutra de manhã e a tarde dizer que jamais aceitará nenhuma pressão das elites, tendo nomeado o indicado de Severino. Ele é capaz de cortar as verbas de todos os ministérios e dizer que nenhum governo faz tanto quanto o dele está fazendo. Eu acho que ele está apelando para os segmentos da opinião pública menos informados e buscando uma identificação mais de base, de classe social de origem. Uma identificação profundamente despolitizada, dirigida aos setores menos informados. Foi a saída que ele encontrou.
RC – Até quando a popularidade do presidente resiste a esse processo?
CB – É difícil afirmar, até porque para isso seria preciso saber bem como funciona a cabeça desses setores da opinião pública que estão mais distantes. Setores mais empobrecidos e menos informados. Eu acho que ele terminará muito mal o governo, até porque ele está fazendo um governo muito ruim. As mudanças que ele fez desassociaram ainda mais seu governo do projeto original do PT
Antônio Teles – O senhor acha que ele tem o controle dos movimentos sociais de tal forma que em uma emergência ele poderia lançar mão desses movimentos para um esforço na rua e pressionar pela permanência e se fortalecer?
CB – Não acredito. A relação do Lula com os movimentos sociais vem piorando e está no seu ponto mais baixo. É muito fácil armar cenários, mas os movimentos sociais fizeram um esforço de ir a Lula propor uma alternativa e a posição que eu percebo hoje é de grande frustração.
AT – Por exemplo, o MST não participa.
CB – Há um distanciamento crescente e cada vez mais explícito, até porque o projeto de reforma agrária está parado.
FM – O senhor foi o primeiro a se declarar frustrado com o PT em 1990. Qual o motivo?
CB – Isso remete a uma questão importante, relacionada com que está acontecendo hoje: a longevidade desses esquemas que estão aparecendo nesse momento. O que está aparecendo agora não é fruto de uma atitude individual intempestiva de alguns. É uma prática sistêmica que tem pelo menos 15 anos no âmbito do PT, da CUT e da esquerda em geral. Nesse ponto, a responsabilidade do presidente Lula e do ex-ministro José Dirceu é enorme.
RC – Como o país vai sair desse processo?
CB- Talvez um país um pouco mais dilacerado. Eu temo muito porque temos processos de natureza sociológica. É um país urbanizado e empobrecido, que tinha até aqui uma espécie de reserva política e moral. Ele gastou essa reserva.
AT – Mas o senhor não acabou de contar como foi seu processo de desilusão…
CB – Isso que está aparecendo agora é o desdobramento de uma série de práticas que começaram na gestão do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) no início dos anos 90, quando o senhor Delúbio Soares foi nomeado representante da CUT na gestão do FAT. Até onde eu sei, começaram ali práticas de financiamento muito heterodoxas. Isso se desdobra na campanha de 94.
AT – Na época, lançou-se mão do FAT?
CB – Sim. Começa um tipo de prática que vai dar a esse grupo uma arma nova na luta interna da esquerda.
RC – Na época, quem tinha conhecimento disso?
CB- O grupo mais íntimo de Lula. O Lula nunca foi um quadro orgânico. Ele sempre teve seus esquemas pessoais na vida interna do PT que culminou na formação do Instituto da Cidadania, anos depois. Um esquema paralelo que seus amigos mais íntimos freqüentavam. Esse esquema pessoal do Lula começou a gerenciar quantidades crescentes de recursos e isso foi um fator decisivo para que o grupo político do Lula pudesse obter a hegemonia dentro do PT e da CUT. No início dos anos 90, a disputa interna do PT era muito equilibrada. Eles chegaram a perder uma convenção em 1993 e introduziram uma arma nova nessa disputa interna. Quando você está numa disputa interna e introduz uma arma nova, você tem grande vantagem. Essa arma foi o poder do dinheiro.
RC – O senhor chama isso de deslumbramento do poder ou de os fins justificam os meios?
CB – No início havia fins. Havia projeto político de controlar o PT, de controlar a CUT, mas eu acho que com o tempo esse grupo foi dissolvido por sua própria prática.
FM – Parece que houve uma desilusão muito grande do senhor em 89, ainda no final da campanha eleitoral…
CB – No fim de 1989 eu tive meu sinal amarelo na relação pessoal com o Lula. Ele me disse que nos dias seguintes ao famoso debate da rede Globo ele tinha se reunido com a direção da Globo e tinha derrubado vários litros de whisky. Eu achei que foi uma atitude extremamente antiética. Eu achei que uma pessoa que se prestava a esse papel tinha um problema de caráter.
FM – O que ele alegou?
CB – Ele alegou que não ia brigar com a Globo, que precisava ficar bem com a emissora. Depois eu participei da coordenação da campanha de 1994 na direção do PT. Houve nessa campanha um segundo fato que foi para mim a gota d’água: o levantamento de recursos paralelos, como diz Delúbio Soares, recursos não contabilizados, sem que isso tivesse sido discutido na direção. Eu não sabia, a direção não sabia. Só o grupo de amigos do Lula participava desse tipo de decisão. Eu me lembro de ingenuamente propor várias vezes na coordenação da campanha que nós abríssemos ao público o nosso sistema de financiamento e pedíssemos que os adversários fizessem o mesmo por uma questão de transparência de campanha. O próprio Lula foi quem me falou que não faríamos isso, sem explicar por quê. Depois ficou claro que havia um financiamento via bancos, empreiteiros, que nunca havia sido discutido na direção do partido. Não era aceitável que uma fração da direção do partido montasse mecanismos paralelos. Não obtive nenhuma reação da direção do PT. Havia um encontro nacional do partido em 1995. Levei essa questão a 800 delegados do partido e usei a expressão “isso é o ovo da serpente” – se não cortar imediatamente, isso vai destruir o partido.
RB – Então o senhor não se surpreendeu com que aconteceu?
CB – Não. Esse é, inclusive, um esquema que se desdobra em várias frentes. É possível ver as impressões digitais desse esquema em Santo André, no caso Celso Daniel. Estamos diante de um grupo que estava montando dentro do governo Lula o que talvez pudesse vir a ser o maior esquema de corrupção já conhecido. Se pegarmos os fios e juntarmos, teremos um conjunto de entidades, instituições e empresas públicas e privadas que é assustador. Aparece no Banco do Brasil, na Petrobras, nas verbas de publicidade, nos fundos de pensão. Esse esquema tem complexidade e permanência no tempo. Ele estava inovando. Houve um tempo que as empreiteiras eram as grandes vilãs, mas como o governo não faz obras, passou a ser a publicidade.
FM – O senhor concorda com o roteiro de denúncias de Roberto Jefferson?
CB – Eu não conheço o Roberto Jefferson, mas acho que é uma questão muito grave. Acho que o Lula tem uma responsabilidade histórica por ter introduzido um tipo de prática que a esquerda brasileira não conhecia e que corroeu por dentro seus valores.
RC – Esse país dilacerado que o senhor antevê será um país mais democrático?
CB – Não sei o final. Nós estamos em vôo cego.
Artigo de César Benjamin na Folha de S. Paulo
Publicado em 27/11.
A PRISÃO na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade.
Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano.
Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal".
Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite.
Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes - "sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar. A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos.
Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile.
Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.
Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo.
Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles.
Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.
Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação.
Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.
Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura.
Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.
São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.
Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.
Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço.
Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta".
Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos.
Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram.
O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.
Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto.
Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade.
Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada.
A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos.
O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos.
Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder.
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