Correio do Povo
UFC ou MMA é um esporte que faz sucesso no mundo inteiro.
Assim como Michel Teló.
O UFC é a velha Luta Livre.
O antigo Vale Tudo.
A arte de bater no outro.
É um bagulho tão anacrônico quanto tourada ou farra do boi.
Chamar um troço desses de esporte é avacalhar o esporte.
É só pancadaria mesmo.
Sempre houve gosto pela pancadaria e pelo sangue, da Roma antiga ao boxe.
A lei do mais forte.
Quem bate mais e mais rápido.
Serve só para estimular o gosto pela violência.
Sei, sei, a violência com regras, a violência ética, a violência disciplinada.
Papo furado. É grotesco.
Michel Teló precisa ir para o morro descobrir a criatividade e a autenticidade do samba.
Já o UFC não tem jeito mesmo.
Só serve para bordões rastaqueras como esse do Galvão Malueno, “gladiadores do novo milênio”.
Vai ver que tomou um soco e ficou, como diria Jean Baudrillard, com o “encéfalo esponjoso”.
Renovação do velho gosto por socos e pontapé na era do sofisticado “ai se eu te pego”, que é uma atualização de outras baixarias e chinelagens, como sempre tem, a chinelagem da estação, que é que tem?
Chinelagem é assim: não dá nada. Faz o esqueleto balançar.
Mas continua sendo chinelagem.
É sintoma de alguma coisa.
Por que só chinelagem e violência ganham o mundo com tanta rapidez?
Chinelagem, violência, autoajuda, esoterismo e sexo, muito sexo, sacanagem.
Assim troteia a humanidade.
Sem complexos, com resposta para tudo e de quatro.
Anderson Silva é o Michel Teló dos novos ringues.
Eterno retorno do primitivo como instinto animal.
Afinal, não passamos disso.
Embora sejamos mais irracionais e perigosos.
É como falar em arrogância das bicicletas.
Arrogância dos motoristas feridos em seus brios de donos das ruas.
Ou em definições jurídicas sobre flanelinhas.
Quem define o que é delito ou crime é a sociedade por meio dos seus representantes, os políticos.
Tudo é cultural.
Cada época com os seus crimes, seus heróis, seus reacionários e suas revistas Oia.
Enquanto a Argentina põe ex-ditador na cadeia, Porto Alegre confirma homenagem aos nossos em nomes de avenidas importantes, legitimando o arbítrio e fazendo de conta que tivemos uma “ditabranda”.
Tudo isso faz parte de um caldeirão, o caldeirão da baixaria.
Teló, se não fosse tão jovem, poderia ter emplacado o melô da ditadura: “Ai se eu te pego”.
Em inglês,, ouvi isso, ficou a própria chinelagem globalizada.
Delicious! Delicious!
Tudo justificado pela lei enunciada por Guy Debord, a Lei da Chinelagem: o que é bom aparece, o que aparece é bom.
Síndrome do fumante que não quer ser incomodado no seu hábito nojento.
Síndrome do infrator de trânsito que não quer ser flagrado pelo pardal.
Síndrome do motorista de camionetão brega que não quer ser atrapalhado pela bicileta.
Síndrome do conservador que não quer ser incomodado por movimentos sociais.
Síndrome do agrochato chamando de ecochato quem o impede de destruir tudo por mais grana.
Síndrome do bêbado que quer ter o direito de dirigir e atropelar alguém.
Síndrome da era do “estupro consentido” na televisão, ao vivo.
Síndrome da lei de Gérson: sempre levar vantagem em tudo, certo?
Errado.
Delicious, delicious!
A moleza acabou.
O cerco vai continuar.