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Do jornal O ESTADÃO
Do jornal O ESTADÃO
Eugênia Lopes / TEXTOS e Andre Dusek/ FOTOS - O Estado de S.Paulo
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Do jornal O ESTADÃO
Por Eugênia Lopes
Passava das duas horas da tarde de quarta-feira, quando a governadora do Maranhão e candidata à reeleição, Roseana Sarney (PMDB), desceu de um helicóptero imaculadamente branco na pequena e empoeirada Nina Rodrigues, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes a 175 quilômetros de São Luís. Era mais um dia da opulenta campanha da peemedebista - que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, como seus principais cabos eleitorais.
Numa espécie de clonagem, toda a campanha e os programas eleitorais de televisão de Roseana são muito parecidos com os de Dilma. Assim como a petista, a governadora é apresentada como "guerreira". A cor predominante também é o vermelho. "É coincidência", diz Roseana, que contratou o marqueteiro Duda Mendonça como consultor de campanha. A de Dilma é tocada pelo publicitário João Santana.
Mais do que Dilma, a presença de Lula é ostensiva na campanha. "Sou Dilma, sou Roseana", diz Lula, logo na abertura do programa, fazendo as vezes de apresentador. "Vote Dilma presidente, Roseana governadora", emenda o presidente. "Roseana e Dilma muito me ajudaram. Peço ao povo do Maranhão para eleger Dilma presidente e Roseana governadora." Lula também pede voto para a reeleição do senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB), de quem diz ser muito amigo, e para João Alberto (PMDB), outro aliado da família Sarney que disputa o Senado.
Estado com os piores índices sociais do País e sob o comando da oligarquia dos Sarney há quatro décadas, o Maranhão simplesmente ignora as denúncias contra o clã. À exceção de um candidato do PSOL ao Senado, Paulo Rios, ninguém fala dos escândalos envolvendo o patriarca, senador José Sarney (PMDB-AP), e a própria Roseana - há duas semanas, por exemplo, o Estado revelou que documentos nos arquivos do Banco Santos indicam que a governadora e seu marido, Jorge Murad, simularam em 2004 um empréstimo de R$ 4,5 milhões para resgatar US$ 1,5 milhão que possuíam no exterior. "Eles (os Sarney) são iguais a índio: inimputáveis", diz José Reinaldo (PSB), ex-governador e ex-aliado dos Sarney.
Contrastes. Mal o helicóptero que carregava Roseana aterrissa em Nina Rodrigues e duas centenas de crianças correm numa espécie de coreografia ensaiada para abraçar e beijar a governadora. A candidata veste calça jeans skinny, blusa estampada de grife, tênis vermelho e boné da mesma cor, com o símbolo do PMDB. De adereço, só um brinco em forma de estrela, com pequenos pontos dourados.
Momentos antes de sua chegada, um caminhão-pipa molha as ruas de terra numa tentativa infrutífera de aplacar o calor e baixar a poeira. Uma estrutura de campanha exuberante antecede a vinda da governadora: dezenas de utilitários de luxo - todos com enormes adesivos de Roseana ao lado de Lula e Dilma - carros de som, trio elétrico, fogos em profusão e seguranças.
Material com propaganda de candidatos dos 16 partidos que compõem a coligação de Roseana é fartamente distribuído pelas ruas da cidade. O aparato grandioso se repetiu em todos os três municípios visitados, na quarta-feira, por Roseana, numa jornada que se estendeu das duas da tarde até as 22h30. Realidade bem diferente vivem seus adversários. Sem dinheiro, Jackson Lago, do PDT, e Flávio Dino, do PC do B, fazem uma campanha bem mais modesta.
Traição. Além dos recursos escassos, Lago convive hoje com a traição de prefeitos de seu partido que se bandearam para o lado de Roseana. Para receber a governadora em Nina Rodrigues, a prefeita Iara Quaresma, do PDT, decretou feriado na cidade: nem escolas nem serviço público funcionaram na quarta-feira. A adesão da pedetista à governadora do PMDB teve um preço: a promessa de construção da ponte que ligará o município a São Benedito do Rio Preto. "Votei no Jackson na eleição passada, mas quem trouxe obras para o município foi a Roseana. Meu sonho é essa ponte, e ela prometeu que vai fazer", diz Iara, ao justificar o voto na peemedebista.
Seis horas mais tarde, em Itapecuru Mirim, cidade com cerca de 90 mil habitantes, o vereador Biné dos Picos, do PDT, também dava desculpa semelhante para votar em Roseana.
"Represento um povoado de 17 mil habitantes, que ganhou uma praça, uma escola de segundo grau e água encanada para 600 famílias desde que a Roseana voltou para o governo. Hoje, ela prometeu reformar a rodoviária do povoado", conta Biné, que levou 150 pessoas em quatro ônibus para ajudar a encher a Praça Gomes de Souza, bem em frente à Prefeitura de Itapecuru.
Em suas andanças na quarta-feira, Roseana ouviu apenas uma crítica. Foi em Vargem Grande, município de 50 mil habitantes, onde candidatos a deputado aproveitaram o comício para reclamar do sistema de abastecimento de água da cidade. "Ainda existe uma dificuldade imensa de água na torneira", critica Fábio Braga, do PMDB. "Fiquei fora sete anos e ninguém se incomodou com o problema de água aqui", contrapõe Roseana.
"Desgoverno". Todas as mazelas do Maranhão são debitadas aos últimos sete anos em que a família Sarney esteve fora do poder. Nem parece que o Estado foi praticamente governado nas últimas décadas pelo clã, aí incluída a própria Roseana, que comandou o Maranhão entre 1994 e 2002. Ao deixar o governo, ela elegeu seu sucessor, o então vice-governador José Reinaldo, hoje adversário ferrenho dos Sarney. A hegemonia só foi quebrada com Jackson Lago, que ficou de janeiro de 2007 a abril de 2009 no governo do Estado.
É só subir no palanque e governadora começa a atacar os "sete anos de desgoverno" e a repetir suas realizações nos últimos 16 meses em que está no comando do Estado. Até a descoberta de gás em Capinzal do Norte pela OGX, do empresário Eike Batista, vai parar na conta das benfeitorias de um ano e quatro meses de Roseana à frente do governo maranhense.
A pouco mais de um mês das eleições, ela conta hoje o apoio da maioria esmagadora dos 217 prefeitos de Maranhão. E desta vez, segundo seus próprios adversários, não são apenas cidadezinhas do interior. Dos dez maiores municípios do Estado, cinco trabalham por sua reeleição.
Comentários Politicamente (In)Corretos
As cidades do interior do Maranhão recebem melhorias e esmolas em conta gotas, cada eleição uma coisinha básica, água, luz, um ambulância, assim o clã se perpetua, de eleição em eleição, agora com a ajuda da canalhice PeTralha.
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Passava das duas horas da tarde de quarta-feira, quando a governadora do Maranhão e candidata à reeleição, Roseana Sarney (PMDB), desceu de um helicóptero imaculadamente branco na pequena e empoeirada Nina Rodrigues, cidade com pouco mais de 10 mil habitantes a 175 quilômetros de São Luís. Era mais um dia da opulenta campanha da peemedebista - que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, como seus principais cabos eleitorais.
Numa espécie de clonagem, toda a campanha e os programas eleitorais de televisão de Roseana são muito parecidos com os de Dilma. Assim como a petista, a governadora é apresentada como "guerreira". A cor predominante também é o vermelho. "É coincidência", diz Roseana, que contratou o marqueteiro Duda Mendonça como consultor de campanha. A de Dilma é tocada pelo publicitário João Santana.
Mais do que Dilma, a presença de Lula é ostensiva na campanha. "Sou Dilma, sou Roseana", diz Lula, logo na abertura do programa, fazendo as vezes de apresentador. "Vote Dilma presidente, Roseana governadora", emenda o presidente. "Roseana e Dilma muito me ajudaram. Peço ao povo do Maranhão para eleger Dilma presidente e Roseana governadora." Lula também pede voto para a reeleição do senador e ex-ministro Edison Lobão (PMDB), de quem diz ser muito amigo, e para João Alberto (PMDB), outro aliado da família Sarney que disputa o Senado.
Estado com os piores índices sociais do País e sob o comando da oligarquia dos Sarney há quatro décadas, o Maranhão simplesmente ignora as denúncias contra o clã. À exceção de um candidato do PSOL ao Senado, Paulo Rios, ninguém fala dos escândalos envolvendo o patriarca, senador José Sarney (PMDB-AP), e a própria Roseana - há duas semanas, por exemplo, o Estado revelou que documentos nos arquivos do Banco Santos indicam que a governadora e seu marido, Jorge Murad, simularam em 2004 um empréstimo de R$ 4,5 milhões para resgatar US$ 1,5 milhão que possuíam no exterior. "Eles (os Sarney) são iguais a índio: inimputáveis", diz José Reinaldo (PSB), ex-governador e ex-aliado dos Sarney.
Contrastes. Mal o helicóptero que carregava Roseana aterrissa em Nina Rodrigues e duas centenas de crianças correm numa espécie de coreografia ensaiada para abraçar e beijar a governadora. A candidata veste calça jeans skinny, blusa estampada de grife, tênis vermelho e boné da mesma cor, com o símbolo do PMDB. De adereço, só um brinco em forma de estrela, com pequenos pontos dourados.
Momentos antes de sua chegada, um caminhão-pipa molha as ruas de terra numa tentativa infrutífera de aplacar o calor e baixar a poeira. Uma estrutura de campanha exuberante antecede a vinda da governadora: dezenas de utilitários de luxo - todos com enormes adesivos de Roseana ao lado de Lula e Dilma - carros de som, trio elétrico, fogos em profusão e seguranças.
Material com propaganda de candidatos dos 16 partidos que compõem a coligação de Roseana é fartamente distribuído pelas ruas da cidade. O aparato grandioso se repetiu em todos os três municípios visitados, na quarta-feira, por Roseana, numa jornada que se estendeu das duas da tarde até as 22h30. Realidade bem diferente vivem seus adversários. Sem dinheiro, Jackson Lago, do PDT, e Flávio Dino, do PC do B, fazem uma campanha bem mais modesta.
Traição. Além dos recursos escassos, Lago convive hoje com a traição de prefeitos de seu partido que se bandearam para o lado de Roseana. Para receber a governadora em Nina Rodrigues, a prefeita Iara Quaresma, do PDT, decretou feriado na cidade: nem escolas nem serviço público funcionaram na quarta-feira. A adesão da pedetista à governadora do PMDB teve um preço: a promessa de construção da ponte que ligará o município a São Benedito do Rio Preto. "Votei no Jackson na eleição passada, mas quem trouxe obras para o município foi a Roseana. Meu sonho é essa ponte, e ela prometeu que vai fazer", diz Iara, ao justificar o voto na peemedebista.
Seis horas mais tarde, em Itapecuru Mirim, cidade com cerca de 90 mil habitantes, o vereador Biné dos Picos, do PDT, também dava desculpa semelhante para votar em Roseana.
"Represento um povoado de 17 mil habitantes, que ganhou uma praça, uma escola de segundo grau e água encanada para 600 famílias desde que a Roseana voltou para o governo. Hoje, ela prometeu reformar a rodoviária do povoado", conta Biné, que levou 150 pessoas em quatro ônibus para ajudar a encher a Praça Gomes de Souza, bem em frente à Prefeitura de Itapecuru.
Em suas andanças na quarta-feira, Roseana ouviu apenas uma crítica. Foi em Vargem Grande, município de 50 mil habitantes, onde candidatos a deputado aproveitaram o comício para reclamar do sistema de abastecimento de água da cidade. "Ainda existe uma dificuldade imensa de água na torneira", critica Fábio Braga, do PMDB. "Fiquei fora sete anos e ninguém se incomodou com o problema de água aqui", contrapõe Roseana.
"Desgoverno". Todas as mazelas do Maranhão são debitadas aos últimos sete anos em que a família Sarney esteve fora do poder. Nem parece que o Estado foi praticamente governado nas últimas décadas pelo clã, aí incluída a própria Roseana, que comandou o Maranhão entre 1994 e 2002. Ao deixar o governo, ela elegeu seu sucessor, o então vice-governador José Reinaldo, hoje adversário ferrenho dos Sarney. A hegemonia só foi quebrada com Jackson Lago, que ficou de janeiro de 2007 a abril de 2009 no governo do Estado.
É só subir no palanque e governadora começa a atacar os "sete anos de desgoverno" e a repetir suas realizações nos últimos 16 meses em que está no comando do Estado. Até a descoberta de gás em Capinzal do Norte pela OGX, do empresário Eike Batista, vai parar na conta das benfeitorias de um ano e quatro meses de Roseana à frente do governo maranhense.
A pouco mais de um mês das eleições, ela conta hoje o apoio da maioria esmagadora dos 217 prefeitos de Maranhão. E desta vez, segundo seus próprios adversários, não são apenas cidadezinhas do interior. Dos dez maiores municípios do Estado, cinco trabalham por sua reeleição.
Comentários Politicamente (In)Corretos
As cidades do interior do Maranhão recebem melhorias e esmolas em conta gotas, cada eleição uma coisinha básica, água, luz, um ambulância, assim o clã se perpetua, de eleição em eleição, agora com a ajuda da canalhice PeTralha.
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