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Por NILSON SOUZA para o jornal Zero Hora
Meu sobrinho que estuda em Sydney (e lava pratos num restaurante para se manter) contou aos colegas de serviço que seu pai teve o carro roubado aqui em Porto Alegre (um carro tão antigo, que nem imposto paga mais). Os australianos fizeram cara de espanto:
– Como assim? Roubam carros lá?
E como roubam! Roubam carros, carteiras, celulares, tampas de bueiros, qualquer coisa que tenha algum valor, por mínimo que seja. Pior do que isso: assaltam casas, bancos, shopping centers. Pior ainda: agridem para roubar, matam para roubar, às vezes matam até depois de roubar.
Que país é esse? – devem pensar os australianos e todos os que moram num lugar civilizado, em que é possível deixar uma bicicleta escorada na calçada e voltar para pegá-la no fim do dia.
Confesso que não tenho resposta para esta pergunta. Não entendo por que se rouba tanto em nosso país. Certamente não é por necessidade. O país acaba de registrar uma histórica mobilidade social, com cerca de 27 milhões de pessoas ascendendo para a classe média, segundo reportagem recente da revista Exame. Significa que todas essas pessoas passaram a ter rendimentos suficientes para equipar suas casas com geladeiras, televisores e computadores.
Moro num bairro habitado predominantemente por pessoas desta classe. Não passa semana sem que algum morador da vizinhança tenha sua casa arrombada e seus bens furtados por ladrões que não mais se intimidam diante de cachorros, cadeados e alarmes.
O que fazer? Ir para a Austrália lavar pratos?
Ainda acredito que um dia construiremos a nossa própria Austrália por aqui mesmo, mas essa roubalheira toda – que começa por cima, com governantes desonestos, políticos que fazem turismo com dinheiro público e instituições incompetentes para puni-los – me dá um certo desânimo. Até parece que temos uma cultura da ladroagem. Há sempre alguém querendo apropriar-se do que não é seu. Todos correm riscos, os que têm muito, os que têm o suficiente e mesmo os que têm muito pouco. Rouba-se carro velho. Rouba-se placa de sinalização. Rouba-se qualquer coisa. E os presídios estão tão abarrotados, que a Justiça tem optado por libertar os presos.
Outro dia, num artigo irônico publicado neste jornal, um professor exigiu o direito de ser tratado como bandido – sob o argumento de que os marginais desfrutam de mais regalias do que os cidadãos honestos e ainda têm a vantagem de não precisar se trancar em casa.
O único consolo que nos resta parece ser mesmo a ironia. Se algum australiano lesse o texto, teria todo o direito de dizer:
– Como assim?
Por NILSON SOUZA para o jornal Zero Hora
Meu sobrinho que estuda em Sydney (e lava pratos num restaurante para se manter) contou aos colegas de serviço que seu pai teve o carro roubado aqui em Porto Alegre (um carro tão antigo, que nem imposto paga mais). Os australianos fizeram cara de espanto:
– Como assim? Roubam carros lá?
E como roubam! Roubam carros, carteiras, celulares, tampas de bueiros, qualquer coisa que tenha algum valor, por mínimo que seja. Pior do que isso: assaltam casas, bancos, shopping centers. Pior ainda: agridem para roubar, matam para roubar, às vezes matam até depois de roubar.
Que país é esse? – devem pensar os australianos e todos os que moram num lugar civilizado, em que é possível deixar uma bicicleta escorada na calçada e voltar para pegá-la no fim do dia.
Confesso que não tenho resposta para esta pergunta. Não entendo por que se rouba tanto em nosso país. Certamente não é por necessidade. O país acaba de registrar uma histórica mobilidade social, com cerca de 27 milhões de pessoas ascendendo para a classe média, segundo reportagem recente da revista Exame. Significa que todas essas pessoas passaram a ter rendimentos suficientes para equipar suas casas com geladeiras, televisores e computadores.
Moro num bairro habitado predominantemente por pessoas desta classe. Não passa semana sem que algum morador da vizinhança tenha sua casa arrombada e seus bens furtados por ladrões que não mais se intimidam diante de cachorros, cadeados e alarmes.
O que fazer? Ir para a Austrália lavar pratos?
Ainda acredito que um dia construiremos a nossa própria Austrália por aqui mesmo, mas essa roubalheira toda – que começa por cima, com governantes desonestos, políticos que fazem turismo com dinheiro público e instituições incompetentes para puni-los – me dá um certo desânimo. Até parece que temos uma cultura da ladroagem. Há sempre alguém querendo apropriar-se do que não é seu. Todos correm riscos, os que têm muito, os que têm o suficiente e mesmo os que têm muito pouco. Rouba-se carro velho. Rouba-se placa de sinalização. Rouba-se qualquer coisa. E os presídios estão tão abarrotados, que a Justiça tem optado por libertar os presos.
Outro dia, num artigo irônico publicado neste jornal, um professor exigiu o direito de ser tratado como bandido – sob o argumento de que os marginais desfrutam de mais regalias do que os cidadãos honestos e ainda têm a vantagem de não precisar se trancar em casa.
O único consolo que nos resta parece ser mesmo a ironia. Se algum australiano lesse o texto, teria todo o direito de dizer:
– Como assim?
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