A ilha de Sokos
Nos mares do entorno de Sokos habitam o golfinho Branco chinês e a toninha de Finless.
O governo de Hong Kong, atual protetorado chinês, priscas eras tinha planos de transformá-la em parque marinho. Mas as pressoões para ocupar Sokos são várias e sempre emperraram o processo. A mais forte vinha do grupo de energia CLP, que também há anos tenta conseguir uma licença para implantar um terminal e uma usina de gás liquefeito de petróleo (GLP), na ilha. Não sei quem venceu ou vencerá essa queda de braço, mas sei que Sokos e o ambiente já estão perdendo.
As praias de Sokos e a lixeira do planeta
Sabe-se que o mar, há muitos séculos, é a lixeira do planeta, tudo que se joga fora inadequadamente acaba no mar. Mas o mar sempre teve capacidade de degradar e absorver o nosso lixo, de uma forma ou de outra, da madeira ao aço.
A maderia mineralizada e o aço acabam por virar substrato de corais, o resto era incorporado ao ambiente, como vidros e cerâmicas, lixados pelas ondas e pela areia, até fazerem parte dela, poético não?
Parágrafo primeiro: Bom.... era, até a final do século XIX, quando acabou a poesia e a nossa criatividade inventou o plástico. A partir da década de 30 do século XX a coisa degringolou, o plástico foi popularizado por um quimico da cidade de Dupont (que deu o nome à indústria), e hoje entope a cidade de São Paulo, ajudando a transbordar rios, corregos e canais, todos rebaixados a condição de esgotos.
Mas voltando a Sokos, enquanto corporações e ambientalistas brigam pelas praias e mares de Sokos, a lixeira do planeta as vezes se revolta e manda as coisas de volta para a terra, mas infelizmente, não necessariamente para os verdadeiros donos.
As praias de Sokos em janeiro de 2010
Um panorama da ilha, aberto e em primeiro plano.
Segundo o autor das fotos, 10 minutos de coleta resultaram em.....
E o destino da toninha.....
O marketing, o "bandeide" e os plásticos
Em 1990, um filosofo frances, Michel Serres, escreveu um livro chamado Le Contract Naturel, (ganhei o livro de uma amiga e professora de zoologia), o livro fala do comportamento e relações humanas (intra-específicas e com a natureza). Começa com uma analogia do comportamento dos homens e um quadro de Goya (os duelistas), mostrando como a humanidade é insana, mas não considero essa a melhor analogia do livro, em algum lugar do texto tem uma que guardei na memória e até hoje considero a melhor representação do nosso comportamento em relação ao ambiente, a analogia do navio petroleiro.
O comandante do navio petroleiro é informado por um marinheiro nervoso que ,exatamente na rota do navio, foi avistada uma rocha aflorando, se continuar nesse rumo, o navio vai afundar. O comandante da embarcação olha impávido para o timoneiro e fala.... reduzir a velocidade.
Só isso, não muda um miléssimo de grau na direção, o desastre é inexorável, só mudou o tempo até o desastre.
Com relação ao ambiente fazemos isso o tempo todo, reduzimos a velocidade, mas os marqueteiros (públicos e privados), jornais, TVs e instituições não governamentais nos bombardeiam o tempo todo com soluções mágicas e que transformam tudo em "sustentável", a salvação do planeta, o homem está se tornando sustentável. Mas sobre uma mudança de rota ou de modelo, nada.
Faça xixi no vaso, o etanol é o combustível do futuro e sustentável, nossa empresa é sustentável, já recuperou mais florestas que destruiu, mineração, extração de petróleo, madeireiras, indústria automobilística, tudo ficou sustentável e ... na maioria das vezes, certificado.
Parágro segundo: A certificação é uma palavra mágica, ter o selo de uma ISO (só de exemplo), é a garantia de que todas as bobagens e danos feitos,são "sustentáveis" e estão sob controle. Uma penca de certificações ISO, florestal, diversidade, tudo transformado em um $elo, dado por uma empresa certificadora, que dá o aval da sustentabilidade, esse selo custa caro e garante o pão nosso de cada dia (ou os brioches), das empresas certificadoras. Na prática, um monte de papel, falo isso de cadeira e conhecimento de causa. O negócio da certificação é tão bom que inventam um certificado desse tipo a cada 2 ou 3 anos, parece industria de informática, 5 anos e a coisa fica obsoleta.
Mas voltando a ilha, ao lixo e aos plásticos, uma das mentiras com o nome de sustentável é a dos plásticos biodegradáveis, essa nem é a analogia do petroleiro, é a do bandeide e a guerra do Vietnan no filme "Apocalipse Now". Quem não conhece, assista o filme, é ótimo e mostra toda a nossa insanidade.
O plástico não se degrada, reduz de tamanho e continua poluindo, não é incorporado a areia, como o vidro e a cerâmica, nao tem as mesmas propriedades, fica lá, por milhares de anos, poluindo e degradando.
Hoje presume-se que quase 30% das "areias" de nossas praias, sejam compostas por plásticos, alguns se transformam nos plásticos "degradados" das areias de Sokos, ou seriam as areias de Sokos degradadas por plásticos. Mas nesse caso, a ordem dos fatores não altera o produto, pode-se dizer que a poluição também tem propriedade comutativa.
O panda que eu não gostaria de ver
O que tem tudo isso a ver com o panda? Nada, em Sokos não existem pandas, bem, não existiam, agora existem, o Panda da ilha de Sokos e seu compompanheiro o "Porquinho" brincando na praia.
Comentário Politicamente (In)Correto
E o mar e a ilha (como tantas), que se danem, afinal, estamos todos virando sustentáveis e o texto ficou uma salada de frutas.
As fotos e o artigo que deu origem ao texto (não foi uma tradução e colagem como fez o Estadão), são de Alex Hofford.