Grupos racistas dos EUA concentram-se em certas regiões – e a presença deles correlaciona-se com religião, votos em McCain e pobreza
Richad Florida no The Atlantic
Richad Florida no The Atlantic
Com a morte de Osama Bin Laden, muitos acreditam que a Al Quaeda recebeu um golpe mortal. O tempo dirá, mas como já aprendemos com o atentado na cidade de Oklahoma e com o tiroteio feito por Nidal Malik Hasan em Fort Hood, temos muito o que temer de nossos próprios extremistas em expansão. E não apenas de “loucos solitários” agindo por conta própria.
Desde 2000, o número de grupos extremistas organizados – desde brancos nacionalistas, neonazistas e skinheads racistas até guardas de fronteiras e grupos negros separatistas – aumentou mais de 50% de acordo com a organização Southern Poverty Law Center (SPLC). O crescimento destes grupos foi alimentado pela crescente ansiedade em relação ao mercado de trabalho, à imigração, à diversidade étnica e racial, à eleição de Barack Obama como o primeiro presidente negro dos EUA e à longa crise econômica. Muitos deles apenas engajam-se em teorias violentas; já outros estão estocando armas e efetivamente planejando ataques.
Mas nem todas as pessoas e lugares odeiam a igualdade; algumas regiões dos Estados Unidos – pelo menos em alguns setores de suas populações – são potenciais incubadoras do ódio. Qual é a geografia dos grupos e organizações de ódio? Por que algumas regiões são mais suscetíveis a eles?
A organização SPLC mantém um banco de dados detalhado sobre grupos de ódio, recolhido de sites e publicações, relatórios de cidadãos e de aplicações de leis, fontes em campo e da imprensa. A SPLC define grupos de ódio como organizações e associações que “têm crenças ou práticas que agridem ou caluniam uma classe inteira de pessoas, tipicamente por suas características imutáveis,” e que participam de “atos criminosos, marchas, comícios, discursos, encontros, panfletagens e publicações.” Em 2010, a SPLC documentou 1.002 destes grupos em todo o país.
O mapa abaixo, de Zara Matheson do Martin Prosperity Institute, representa graficamente a geografia do ódio nos EUA atualmente. Baseado no número de grupos de ódio por milhão de habitantes em todos os estados do país, ele revela um padrão característico.
Grupos de ódio estão altamente concentrados no velho Sul e nos estados de planície do norte. Dois estados têm, de longe, a maior concentração desses grupos – Montana com 13.8 grupos por milhão de habitante, e Mississipi com 13.7 por milhão. Arkansas (10.3), Wyoming (9.7) e Idaho (8.9) vêm em distantes terceiro, quarto e quinto lugares.
Tais grupos estão muito menos concentrados no Nordeste, nos Grandes Lagos e na Costa Oeste. Minesota tem a menor concentração de grupos de ódio, com 1.3 grupos por milhão de pessoas, quase dez vezes menos que o estado que lidera, seguido por Wisconsin (1.4), Novo México (1.5), Massachusetts (1.6) e Nova Iorque (1.6). Connecticut (1.7), Califórina (1.9) e Rhode Island (1.9) têm todos menos que dois grupos por milhão de pessoas.
Mas além de suas localizações, que outros fatores estão associados aos grupos de ódio? Com o auxílio de minha colega Charlotta Mellander, eu ponderei sobre os fatores sociais, políticos, culturais, econômicos e demográficos que poderiam estar associados com a geografia dos grupos de ódio. Consideramos um conjunto de fatores-chave que conformam a divisão geográfica dos Estados Unidos: estados “republicanos” / estados “democratas”; renda e pobreza; religião e classe econômica. É importante observar que correlação não implica causação – estamos apenas analisando associação entre variáveis. Também é importante ressaltar que Montana e Mississipi são consideravelmente muito discrepantes, o que pode distorcer um pouco os resultados. Entretanto, os padrões que encontramos são robustos e distintos o suficiente para justificar os dados.
Antes de tudo, a geografia do ódio reflete a ordenação da política nos Estados Unidos, ou seja, de estados que votam majoritariamente em candidatos à presidência do Partido Republicano (Red state) e dos que votam predominantemente em candidatos à presidência do Partido Democrata (Blue state).
De modo oposto, grupos de ódio estão negativamente associados com votos em Obama (com uma correlação de -54%).
Grupos de ódio também dividem-se com base em linhas religiosas. Ironicamente, mas talvez não de modo surpreendente, as maiores concentrações de grupos de ódio estão positivamente associadas a estados nos quais os indivíduos relatam ter a religião um papel importante no cotidiano (uma correlação de 35%).
A geografia do ódio também reflete a classificação da população segundo níveis de educação e capital humano. Grupos de ódio estão negativamente associados ao percentual de adultos que portam um diploma universitário (-41%).
A geografia do ódio também traz divisões em termos econômicos. Grupos de ódio estão mais concentrados em estados com altas taxas de pobreza (39%) e naqueles com forças de trabalho das indústrias de base (blue-collar) (41%).
Estados mais ricos com maior concentração de trabalhadores em “ocupações criativas” (estas incluem ciência e tecnologia; negócios e administração; educação, direitos e medicina; e artes, cultura e entretenimento) proporcionam ambientes menos férteis para o ódio. Grupos de ódio estavam negativamente associados com níveis de riqueza (-36%) e com o percentual de trabalhadores em profissões “criativas” (-48%).
Grupos de ódio também refletem a base de abertura, tolerância e diversidade de uma região. Tais grupos estão negativamente correlacionados com concentrações de famílias de gays e lésbicas (-37%) e ainda mais onde há altas concentrações de imigrantes (-53%).
A geografia dos grupos de ódio resulta da mais geral divisão da população dos EUA em termos de política e ideologia, religião, educação, níveis de riqueza e classe social. Mas a presença de grupos de ódio não conduz, necessariamente, a crimes de ódio. Um estudo de 2010 sobre Grupos de Ódio e Crimes de Ódio, dos economistas Matt Ryan e Peter Leeson, não encontrou conexão empírica entre os dois dados. Traçando a associação entre grupos de ódio e crimes de ódio entre 2002 e 2006, eles descobriram que enquanto o número de organizações de ódio cresceu substancialmente, o número de crimes não – na verdade, tais crimes tiveram ligeira queda. Entretanto, eles encontraram forte relação entre crimes de ódio e condições econômicas adversas, particularmente desemprego e grau de pobreza extrema. Os pesquisadores sugerem que crimes de ódio seguem o padrão descrito há bastante tempo na clássica tese da frustração-agressão que, como seu nome indica, associa agressão a altos níveis de frustração: “Quando as pessoas enfrentam dificuldades econômicas, elas ficam frustradas”, escrevem Ryan e Leeson. “Eles canalisam a frustração em grupos sociais vulneráveis, como minorias étnicas, sexuais e religiosas.”
Ainda que grupos de ódio não estejam diretamente conectados com crimes de ódio, eles provêm da mesma base de fatores econômicos que dividem a população dos EUA por classe, ideologia e política. Grupos de ódio, assim como crimes de ódio, estão fortemente associados à miséria. A geografia do ódio nos Estados Unidos reflete e reforça a profunda “geografia” de classes do país.