quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Querem censurar Lobato, por que não Tarzan, O Fantasma e Jim das Selvas?

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Por uma denúncia de racismo, que um maluco fez ao bando de burocratas do Conselho Nacional de Educação, Monteiro Lobato foi censurado, mais, com uma sugestão de banimento.

Ainda bem que todas as vozes, dos indivíduos que tem mais de dois neurônios, se posionaram contra essa medida idiota e perigosa (eu diria mais perigosa que idiota), do CNF. 

Queimar livros ou censurá-los é coisa preferencial dos cristãos, nazistas, petistas e outras coisas com tendências bem autoritárias.

Hoje o Ministro da Educação rejeitou o parecer do CNE, espero que essa palhaçada  fique por aqui, mas o CNE abriu a porta, logo vamos ter aquela leva de pedidos de censura por motivos religiosos e coisas que esses malucos do gênero sempre tem.

Abaixo alguns textos sobre mais uma medida (no mínimo imbecil), que os barnabés tomaram.

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Ricardo Magnus Osório Galvão, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

"O veto do Conselho Nacional de Educação à obra Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, me fez lembrar um episódio de minha infância. Meu pai sempre incentivou a leitura de livros em casa. Eu e meus irmãos éramos introduzidos aos livros de Monteiro Lobato, em seqüência, logo após terminar o segundo ano primário, quando nossa habilidade de leitura e de compreensão de textos já permitia uma leitura fluente.

Por volta dos dez anos já nos apresentava os livros de Karl May, Arthur Conan Doyle, Malba Tahan e outros autores, cujas obras iam ao encontro do espírito aventureiro de nossa pré-adolescência e fortaleciam nossa capacidade de raciocínio e imaginação.

Um dia, numa visita à escola de freiras onde minha mãe havia estudado em nossa terra natal, Itajubá, Minas Gerais, ao ser apresentado por ela à Madre Superiora (eu tinha por volta de onze anos), esta perguntou sobre minhas leituras. Comecei logo a falar entusiasticamente sobre os Doze Trabalhos de Hércules, um dos livros que mais me atraíam na obra de Lobato.

A Madre Superiora chamou minha mãe para uma conversa particular e a repreendeu fortemente, porque os livros de Monteiro Lobato estariam proibidos pela Igreja Católica, por ele apresentar a Teoria de Darwin sobre a evolução das espécies.

Minha mãe não retrucou, mas, embora bastante católica, não atendeu imediatamente à Madre Superiora. Ao retornar a Niterói procurou o orientador pedagógico do Colégio Salesiano Santa Rosa e perguntou sobre como deveria proceder para nos dar uma formação ampla sem ferir suas convicções religiosas.

Felizmente o orientador, professor Valmor Chagas, tinha uma mentalidade bastante aberta e disse-lhe explicitamente que a orientação da Madre Superiora se devia a uma falta de entendimento mais profundo sobre a evolução da ciência.

Informou-lhe que, já no início de seu mandato, o Papa Pio XI havia esclarecido que a Teoria de Darwin não era contraditória à crença em Deus, e que este modelo de evolução era apresentado no colégio, dentro das aulas de biologia, aos alunos do quarto ano do ginásio.

Esta informação felizmente tranqüilizou minha mãe, de forma que meus irmãos menores puderam continuar a saborear os livros de Lobato. Tivesse ela tomado outra atitude, meus irmãos menores poderiam ter ficado privados dessa deliciosa aventura intelectual.

O veto do Conselho Nacional de Educação, embora em outro contexto, parece reproduzir a falta de visão da Madre Superiora. Além do livro Caçadas de Pedrinho, em praticamente todos os livros dos autores acima mencionados, Karl May, Arthur Conan Doyle, Malba Tahan, ou nos livros de Tarzan, podem ser encontradas passagens, as quais, em termos dos conceitos modernos, poderiam ser consideradas preconceituosas ou racistas. Mas colocá-las em um "Index" seria também contrário à visão moderna de acesso universal ao conhecimento.

Cabe, isto sim, aos pais e mestres orientar seus filhos e pupilos para saber identificar esses temas e colocá-los no contexto da época em que foram escritos. Essa seria a atitude correta para fortalecer a formação intelectual e humana de nossa juventude."

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A jequice da Era da Mediocridade
 

O Brasil conseguiu ficar mais jeca, resumiu o título do post publicado em setembro de 2009 e reproduzido na seção Vale Reprise.

Depois de descrever a inverossímil quermesse patriótica montada para celebrar a fantasia do pré-sal, que chegou ao climax com a Proclamação da Segunda Independência pelo presidente Lula, o texto reitera nas três últimas linhas que os brasileiros ainda providos de lucidez continuavam a enxergar as coisas como as coisas são: “Sem parentesco com o país que o governo inventou, o Brasil real não mudou. Só conseguiu tornar-se ainda mais metido a esperto, mais grosseiro, mais caipira, mais jeca. Toda nação acaba ficando parecida com quem a governa”.

Ficou mais parecida ainda nesta semana, informa o parecer do Conselho Nacional de Educação publicado no Diário Oficial da União de quinta-feira. Segundo a entidade, o livro “Caçadas de Pedrinho”, do escritor Monteiro Lobato, é perigoso demais para cair nas mãos dos alunos de escolas públicas.

Em que pecado teria incorrido o pai de personagens ─ Emília, Narizinho, Dona Benta, Visconde de Sabugosa, Tia Nastácia, o próprio Pedrinho ─ eternizados no imaginário de milhões de crianças brasileiras? Que crime teria cometido o admirável contador de histórias que inoculou em incontáveis gerações o amor à leitura?

Monteiro Lobato é racista, acaba de descobrir Nilma Lino Gomes, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, que redigiu o documento endossado pelos demais conselheiros.
No livro publicado em 1933, ela identificou vários trechos grávidos de preconceito, sobretudo os que envolvem Tia Nastácia, macacos e urubus. “Estes fazem menção revestida de estereotipia ao negro e ao universo africano”, explica a vigilante conselheira. Num deles, “Tia Nastácia é chamada de negra”. Noutro, trepa numa árvore “com a agilidade de um macaco”.
Solidária com os conselheiros, a Secretaria de Alfabetização e Diversidade do MEC já resolveu que “a obra só deve ser usada quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil”.

Quem não compreende coisa nenhuma é o bando de ineptos alojado nas siglas que vão colocando em frangalhos o sistema de ensino. Quem precisa tratar processos históricos com menos ligeireza são os cretinos fundamentais que ousam censurar a obra de um escritor genial. Só burocratas idiotizados pelo politicamente correto tentam aprisionar em gavetas nos porões criaturas que excitaram a imaginação de milhões de pequenos brasileiros.

Ironicamente, um dos filhos literários de Monteiro Lobato é o Jeca Tatu. Nasceu para ensinar que o Brasil só conheceria a civilização se erradicasse o atraso crônico, as doenças da miséria, o primitivismo cultural ─ a jequice, enfim.

No Brasil do presidente que não lê, não sabe escrever e celebra a ignorância, o caipira minado pelo amarelão, que fala errado e se imagina esperto, virou modelo a imitar. Ser jeca está na moda, rende votos, aumenta a popularidade. Pode até garantir o emprego de conselheiro nacional de educação.”

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