quinta-feira, 11 de novembro de 2010

As metamorfoses dos cruéis

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As metamorfoses dos cruéis

Por Voltaire Schilling  para o Jornal Zero Hora de Porto Alegre

"Lembre-se, a discórdia é patriótica.”
Slogan do Tea Party – Nashville, 2009

As fotos do Museu Getty não deixam dúvida, o linchamento de negros era um acontecimento festivo nos Estados Unidos dos anos 20 e 30. Uma delas, tirada em Indiana em agosto de 1930, mostra uns 50 caipiras brancos, inclusive com algumas mulheres e crianças, admirando os corpos queimados e estirados de dois pobres homens vestidos miseravelmente.

Faziam até cartões-postais disso para remeter aos parentes distantes. Em outras localidades, anunciavam o enforcamento pelo jornal para atrair curiosos da vizinhança que vinham de trem para, irmanados, participar do horror.

Naquela mesma década, essa mesma gente fez de tudo para impedir a política de Franklin D. Roosevelt para tirar o país da Depressão, denunciando as ações redentoras do Novo Trato como “intervencionistas” e “comunistas”.

Entre os anos 40 e 50 do século passado, empenharam-se em insuflar a Guerra Fria, para que o Estado gastasse bilhões em armas nucleares dando especial apoio ao Dr. Edward Teller na construção da bomba final que pulverizaria parte da humanidade. Ao mesmo tempo, covardes, alinhados ao senador Joseph McCarthy na caça às feiticeiras, perseguiram funcionários públicos e artistas de Hollywood colocando-os em “listas negras” para que não pudessem mais atuar. Praticamente empurraram o grande Charles Chaplin para o exílio.

Nesse tempo todo, apoiaram o que havia de pior na América Latina. Fossem tiranos como Trujillo, Somoza ou Batista, nunca lhes regatearam dólares, quando não lhes treinavam as polícias. Foram os maiores entusiastas da longa intervenção armada no Vietnã (1965-1975), mesmo que custasse a vida de mais de 1 milhão de paupérrimos camponeses e que arrasassem as florestas deles com terríveis herbicidas como o “agente laranja”. Lamentaram foi a derrota e não o estrago que causaram, e não sossegaram enquanto um deles não atirou no atrevido Dr. Martin Luther King.

E, passados uns tantos anos, voltaram à cena apoiando em massa o presidente George Bush na sua “guerra ao terror”, invadindo dois países miseráveis do Oriente e matando a população a granel na maior operação colonialista dos tempos recentes.

O negro supliciado dos anos 20 passou a ser substituído pelo árabe-iraquiano encapuzado, pendurado por cordas e torturado em Abu Ghraib, ou pelo desgraçado afegão ou paquistanês fronteiriço dilacerado por bombas jogadas regularmente lá do alto pelos drones, os aviões teleguiados.

Essa gente cruel não suportou nem o pouco refresco que o presidente Barack Obama trouxe à nação. Logo tratou de se reorganizar em torno do movimento Tea Party (uma ofensa aos revolucionários de Boston da época da Independência) para que o jovem líder suspenda ou mutile as reformas que objetivam dar melhor assistência aos pobres.

Ainda que conscientes de viverem no país mais rico e poderoso da terra, egoístas mórbidos querem fazer reverter o programa que proporciona aos 30 ou 40 milhões de carentes o acesso à mais eficaz medicina do mundo. Não conseguiram suportar sequer dois anos de convívio com políticas públicas de bondade e generosidade. E ainda assim todos se confessam cristãos!

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Comentários do Porco.

Com relação ao comentário postado abaixo, tenho a dizer:

Não acho que Voltaire Schilling tenha apenas juntado as partes "ruins" do tea party, ele apenas evidenciou isso e explicitou um fato.

O Tea Party, travestido de defensor da liberdade e da "propriedade", realmente agrega o que tem de pior na sociedade americana, dos racistas como a KKK, passando pela direita ignorante, caipira, religiosa e retardada, que no mínimo simpatiza com a Klan e acha que OBAMA é mulçumano e nasceu na africa, todos conduzidos pela direita belicista clássica e todos unidos contra os "comunistas" que estão no poder.

Não há nenhum grande liberal (de fato, histórico ou teórico), que defenda o Tea Party, gerado no medo que os  WASP (brancos, anglo-saxônicos e protestantes), tem de perder o controle do país e que o estado assuma a postura de ser um agente do bem estar social (mesmo que mínimo), tais como a Obama's medical care. Aquelas coisas que os dinamarqueses chamam de civilidade e os americanos de socialismo.

Um comentário:

  1. Voltaire juntou num mesmo saco o que os EUA tem de pior na sua história e carimbou "Tea Party" nele. Esta simplificação marota, distorce um movimento que defende o que há de mais nobre no ser humano, a defesa da liberdade, da propriedade e da busca da felicidade. Para melhor entendimento sugiro: http://www.youtube.com/watch?v=OLD6VChcWCE&feature=share e os outros vídeos que o sucedem.

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