sábado, 18 de fevereiro de 2012

GOVERNO VIGIADO - Cruzada obscurantista

Do Jornal Zero Hora de 19 de fevereiro de 2012 para assinantes

GOVERNO VIGIADO

Cruzada obscurantista

É no mínimo constrangedor ver um governo refém de anacrônicas pregações religiosas. Por mais que temas como a legalização do aborto e o casamento homossexual ainda sejam tabus, é prudente que esse debate seja despido de convicções ideológicas ou crenças doutrinárias.

O Brasil é um país laico. Políticas de saúde pública e ações de combate ao preconceito e à violência não podem ser alvo de barganhas eleitorais. A bem da verdade, a raivosa reação da bancada evangélica às declarações do ministro Gilberto Carvalho esconde uma disputa pelo controle do voto dos fiéis. Ao exigir um pedido de perdão do ministro, os pastores do Congresso enviaram um recado ao governo: para obter o voto dos nossos seguidores, vocês terão de negociar conosco. Ou melhor, barganhar.

Não deixa de ser um paradoxo para o PT. Foi no governo Lula que a classe C, onde se concentra a maioria dos evangélicos, teve maior ascensão. E esse segmento já produziu estragos na eleição passada, quando Dilma Rousseff precisou corrigir o rumo da campanha para estancar a sangria de votos por causa da polêmica sobre aborto. Agora, a pregação se volta contra a candidatura de Fernando Haddad em São Paulo.

Prioridade número 1 do PT, a campanha de Haddad já começa a ser alvejada por ataques religiosos. Nesse quadro obscurantista, o pior é ver um ministro e candidaturas acuadas por uma bancada que tem entre seus líderes Anthony Garotinho, condenado por formação de quadrilha.

klecio.santos@gruporbs.com.br

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