Vendo o programa do Bill Maher de alguns dias antes das
eleições dos USA, vi uma colocação de Jennifer Granholm, a ex governadora de Michigan, que chamou a minha atenção, ela falou uma coisa até meio óbvia, mas verdadeira e preocupante, que o fenômeno Trump se deve, em parte, pela paranoia americana que criou uma teoria da conspiração
contra a mídia "formal" (grandes jornais, revistas, etc.), a de que só serve aos interesses dos governos e aos próprios.
Sabemos que em vários meios de comunicação existe muita
omissão e até distorções, seja nos de "chapa branca" ou nos de oposição. Mas
ainda existem alguns mais confiáveis e, de qualquer modo, há bem menos
mentiras, boatos e teorias conspiratórias nas mídias tradicionais do que nas
redes sociais e na mídia alternativa. Mas mesmo assim, a maioria prefere acreditar numa
fonte anônima do Facebook ou num blog com ideologia do que num jornal tradicional.
E a coisa vira uma bola de neve descendo uma encosta, ao
invés de procurar as informações em qualquer fonte confiável e difundi-las, a
maioria prefere replicar as bobagens das redes sociais, por mais absurdas que
sejam. Assim vemos montagens grosseiras de fotos, mentiras, boatos, textos
atribuídos à escritores, filósofos, etc., difundidas e discutidas como sendo uma teoria científica (que é diferente de teoria na linguagem coloquial).
Pior que para ser replicada, uma postagem não precisa de nada
além de um título que atenda aos interesses, "convicções" ou
crenças do "leitor".
Um "bom" título, será curtido e repassado automaticamente,
centenas, as vezes milhares de vezes, sem confirmação, sem avaliação e, na maioria das vezes, sem que o conteúdo
tenha sido lido.
Aí vê-se as coisas mais absurdas, como pessoas que se dizem
de esquerda replicando postagens de fascistas raivosos e até de pretos difundindo textos de racistas declarados, sem que tenham lido o
conteúdo ou verificado a fonte .
Se em política já é assim, onde todo mundo tem uma opinião
sobre o que não entende e ódio ao que não conhece, e faz questão de não ler ou se informar sobre ele, imaginem quando os assuntos
versam sobre ciências, seja qual ramo for, da biologia à astronomia.
Aí, via de regra,
vira uma discussão entre ignorantes ou com ignorantes. E quase sempre fica pior que discussão política, pois os crentes e os deistas querem que mitologia seja considerada uma opção ao conhecimento científico.
E quando eu digo que é uma discussão com ou entre ignorantes não é sarcasmo, ofensa, eufemismo ou semântica, é estatística. Para quem não sabe, 94 % da população brasileira
é ignorante quando falamos de ciências. Acha que esse percentual está elevado?
Então dê uma lida no Índice de Letramento Científico do brasileiro. Esse estudo
identificou que apenas 6% da população das terras brasilis é proficiente nelas.
Mas mesmo sendo analfabetos absolutos em conhecimento científico, todo mundo acha alguma coisa quando o
assunto é ciências. Principalmente com a proliferação desses canais que deveriam ser
de divulgação científica, mas que passam grande parte do seu tempo falando sobre ETs,
sereias, pés grandes e similares.
Não é à toa que uma postagem sobre as "qualidades" do filtro de barro rolam em blogs, sítios peseudo científicos e, obviamente, pelo facebook já faz uns bons 2 ou 3 anos. Criando uma legião de analfabetos enganados que acreditam que ele filtra tudo, de fezes a metais
pesados e produtos químicos.
O problema que as pessoas ignorantes precisam acreditar em alguma coisa e necessitam de pessoas que tenham afinidade ou tenham o mesmo grau de analfabetismo e/ou ignorância e/ou crença. Mesmo que a prova contrária
seja apresentada ou que a ciência digam o contrário.
Assim, as redes sociais não são apenas o paraíso onde os analfabetos
em política ou os disfuncionais políticos podem difundir a sua ignorância
(e na grande parte das vezes, seu ódio), mas também é um campo fértil para os anti
vacinas, os pró homeopatias e todo o tipo de charlatanismo. E todos, sem exceção,
sabem que vão agregar todo o tipo de seguidores e propagadores de suas bobagens.
Por isso, eu iria um pouco além do que disse Umberto Eco
sobre as redes sociais. Elas não apenas deram voz a uma legião de idiotas da
aldeia, mas permitiu que eles encontrassem seus pares e fizessem seguidores.
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